Tendo como base
o texto de Antônio Bosco de lima “Estado, politicas publicas e Educação no
Brasil” entramos na discussão sobre o estado centralizador e estado gerencial
onde ele aponta as principais características de cada um, tomando como ponto de
partida a concepção de Estado liberal para explicar quais foram as
consequências do processo de superprodução, no que diz respeito à reorganização
do Estado e das politicas educacionais.
A logica liberal
da economia acredita que o papel do Estado moderno é somente um mediador de
conflitos entre grupos sociais preservando então “interesses comuns” e,
portanto, não deveria haver uma intervenção estatal no desenrolar da economia.
Esse viés de pensamento, que segue a mesma linha de Keynes, nos traz elementos
para pensar a economia através de uma articulação entre politica econômica e
politica social; nesse caso, a presença do Estado é fundamental para manter
tanto o sistema politico quanto o econômico embasados no liberalismo. O Estado
para os liberais é descentralizado, propicia uma mistura entre o privado e o
publico por meio das privatizações. Estas medidas proporcionam uma gestão mais
flexível, que garantem uma maior autonomia da administração. A descentralização
vai por via reversa ao Estado de bem estar social, que é um Estado de cunho
mais centralizador e assistencialista, que promove politicas sociais, mas
também controla o consumo e o girar da economia; contraria aos ideais liberais
e neoliberais.
Podemos tomar
como exemplo de postura política assistencialista o período em que Getúlio
Vargas governou, justamente pela promoção de diversas políticas publicas e pela
criação de grandes empresas que, até então, pertenciam integralmente ao governo
federal, como a Petrobrás, alem de outras intervenções que giram no cenário
cotidiano do trabalhador, que são os sindicatos, tendo em vista que as leis
trabalhistas acabam por interferir de alguma maneira no processo de produção e
no acumulo de capital, vamos dizer assim. Com a entrada de JK na presidência da
República, este tipo postura foi praticamente abandonada, dando abertura ao
capital externo e às privatizações de partes das ações do governo. Vemos então
que este Estado de Bem Estar Social entra em crise, abrindo as portas para um
Estado liberal e descentralizado, que dará inicio a um processo de
reorganização social, acompanhado o processo de mudanças no modo produtivo.
Nesse caso,
Bosco de Lima nos conduz a atribuir a crise do Estado ao seu modelo, desse modo
a crise é atribuída à sua função de Estado, que pode ser estendido também para
os modelos de políticas públicas e educacionais. Seguindo a lógica de coesão
proposta nos enunciados, deterei apenas a falar da esfera educacional. Desse
modo, o que esta em crise é o modelo de escola, e não a escola em si. “A questão é que a escola é um aparelho de
Estado, que, para os neoliberais precisa ser controlado pelo mercado.”
(p.147) Essa perspectiva nos apresenta uma visão dialética, pois a comunidade
educacional precisa e, de certa maneira, exige uma escola democrática e já para
os neoliberais, tem-se o oposto; para eles faz-se necessário a retirada do
conteúdo político da escola.
Vemos então que
a lógica capitalista neoliberal transita em todos os campos da ordem publica e,
obviamente, privada. Se você exclui o conteúdo político da escola, cria-se uma
sociedade que ira formar profissionais incapazes de ter uma visão mais critica
do mundo em que esta vivendo, porque esse procedimento causa um
“emburrecimento” da população, que se deixa seduzir por aquele aplicativo de
influencia psicológica, que se chama marketing e propaganda, sendo induzido ao
consumo; mas como os produtos se atualizam quase que diariamente, esse consumo
aliado ao psicológico, provoca uma cadeia de consumo excessivo. Logo, para que
haja capital para satisfazer esse desejo psicológico, faz-se necessário
trabalhar. Entrando na lógica do sistema liberal. As escolas, que deixaram de
ser aparada pelo Estado, ingressa de ponta nessa lógica de consumo, tendo em
vista que seu amparo agora é efetuado pelo Organização Mundial do Comercio.
Temos então uma disputa, entre governo neoliberal e comunidade educacional,
pela escola.
Tudo isso se
encaixa no modelo de organização gerencial, que estabelece um padrão que é
orientado pelo mercado, “ou seja, os
serviços prestados são direcionados pela caracterização da eficiência e
eficácia” (p.148). Sendo assim, o processo educacional ficará em segundo
plano, pois o produto é que esta sendo privilegiado e isso traz como
conseqüência um desvio de função do estado que é prestar serviços sociais. Flexibilizar
o serviço publico como uma empresa privada acaba por mudar as finalidades da
prestação de serviços porque a otimização de recursos e a minimização dos
gastos são incompatíveis com serviço publico de qualidade. Assim tem-se uma
explosão de colégios e universidades particulares, que formam mão de obra para
o mercado de trabalho e não um trabalhador que se reconhece enquanto cidadão.
Nesse contexto,
a educação sofre uma reforma, onde o eixo central esta ligado à família.
Aparentemente a grande maioria atribui determinados valores positivos à essa
reforma, mas ao contrario do estão propondo, essa reforma deixa a escola cada
vez mais desigual, retirando do Estado o dever de garantir suas políticas
publicas. É importante destacar que essas politicas iniciam-se nos anos 1990,
no governo FHC. Vemos então, que há um processo de descentralização da
responsabilidade do Estado na educação e a subseqüente privatização da educação
no país e a desqualificação das escolas publicas.
Atribui-se aos
municípios e ao cidadão o que antes era dever do Estado, e que é incentivada
por programas de desenvolvimento da educação, como o PED, que traz em seu eixo
temático central a idéia de “todos pela educação”. Assim, o governo passa ao
município a responsabilidade da educação, sendo cada escola responsável pela melhoria
da qualidade de ensino. A família, a comunidade e a escola privada também
assumem papeis importantes e distintos no processo de reforma escolar e de
melhora da mesma. Outro problema levantado por esse método é a questão da
avaliação das escolas, que são classificadas como boas ou ruins por meio de
avaliações, criando uma idéia de competitividade entre as escolas, aumentando e
reforçando ainda mais a desigualdade.
A descentralização do estado e da sua atuação
no processo educacional, atribuindo sua responsabilidade ao município e ao
cidadão, proporciona ainda mais a corrupção, e assim, a verba destinada ao
município não chega ate as escolas devido à este ato de vandalismo descarado, e
como a educação agora está sob a tutela do Banco Central, logo os cidadãos que
nela se formam não desenvolverão o conhecimento político necessário para que se
tenha um posicionamento critico diante dessas situações.
No governo Lula,
a idéia da educação como um direito do cidadão é retomada, recuperando o
conceito de educação básica; o que antes era o FUNDEF – somente ate o
fundamental, agora passa a ser FUNDEB – educação infantil ao ensino médio.
Tem-se então, uma ampliação das políticas publicas e sociais, procurando fazer
uma redemocratização do acesso à educação. Essas autoras nos proporcionam uma
reflexão que nos ocasiona o levantamento de questões criticas a esse
instrumento de avaliação das escolas, e da reforma escolar de um modo geral, e
nos faz refletir que essas são as propostas jurídicas para educação – como o PED,
mas na vida real não funcionam pelo excesso de corrupção e pela falta de
conteúdos políticos no ensino. Então, quem nos garante esse direito à educação
já que o estado se distanciou da sua real ocupação repassando a tutela do
investimento na educação à organização mundial do comercio? O que diferencia
essas propostas jurídicas da realidade das escolas brasileiras? São questões
que nos fazem ser pensadas ao longo do texto.
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