quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Instituto de Ciências Humanas e Sociais
                América I – Luiz Estevam
                Nome: Fernanda Gabriella Silva Ribeiro
                09.2.3185          30/06/11




PROPOSTA: Caracterize o puritanismo das colônias britânicas quanto ao projeto político.


As colônias Inglesas se encontram em uma situação diversa das colônias ibéricas, que levavam com a colonização, representantes de suas metrópoles junto da Igreja Católica, como afirmara Leandro Karnal dizendo que o “Estado e a Igreja oficial, na verdade, não acompanharam os colonos ingleses” (KARNAL, 2001, p. 27). As treze colônias do norte foram povoadas por fugitivos religiosos, calvinistas, vindos da Inglaterra. Outras comunidades também foram devido ao cercamento, se analisado em um contexto maior, alem de alguns franceses, holandeses e dinamarqueses na região das Antilhas.
Essas pessoas se amontoavam em pequenas comunidades de auto-subsistência, ou seja, produziam tudo aquilo que fosse para o próprio consumo da comunidade, embasados na tradição dos Pais Peregrinos. A formação dessas aldeias se dão devido a um pacto de auto-governo. Para de tornar cidadão nessas aldeias era preciso que o individuo fosse da mesma religião protestante e membro da igreja, visto que essa era o impulsora dessas comunidades. Nessas religiões se enfatizam também forte ligação com o trabalho, pois é ele que promove a salvação de seus fiéis; encaram o trabalho como um mandamento de Deus. Para que o individuo pudesse se candidatar a algum cargo do estado, sua família deveria apresentar uma vida exemplar, nos moldes da igreja local. A rigidez moral desses protestantes era muito maior do que no se cobrava na fé católica, sendo que sua confissão era realizada publicamente.
As instituições político-administrativas das Treze Colônias tiveram variações entre si, mas de modo geral todas possuíam suas próprias autoridades e autonomia em relação as demais e a metrópole.
Já nas colônias do sul, os primeiro que lá chegaram, estavam vinculados às companhias de comercio, girando em torno da lógica mercantilista; querendo extrair lucros daquelas terras, assim como os portugueses e espanhóis, explorando a principio o tabaco e o cacau. 

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
ICHS – Mariana
Nome: Fernanda Gabriella Silva Ribeiro
Data: 14/12/2011   Disciplina: História da Escravidão
Prof.: Andréa Lisly    Atividade Avaliativa (trabalho) 


Como forma de organizar os escravos trazidos da áfrica, Mariza de Carvalho Soares em seu texto “Mina, Angola e Guiné: nomes d’África no Rio de Janeiro setecentista” aponta como fator principal a origem do escravo que acompanhava os seus nomes; critério pelo qual eram encaixados na sociedade. De acordo com Soares o nome traz a marca de designação de um grupo: suas características físicas e comportamentais, línguas, crenças e formas de vestir.
            Soares critica a corrente historiográfica que, mesmo abordando temas como escravidão e o trafico, se esquecem da composição étnica da escravaria, visto que “mesmo quando recobrem universos empíricos idênticos, elas correspondem a indagações teóricas de diferentes ordens”.
 Neste texto Mariza de Carvalho Soares vai se debruçar sobre a noção de identidade étnica desses escravos trazidos da África, tendo como fonte os livros de batismo de escravos relativos aos anos de 1718 a 1760. Nesta análise, a autora percebe que havia a necessidade de se registrar a procedência e a cor dos escravos. Parte do ano de 1718 porque nesta data foi aberto na freguesia da Sé – Rio de Janeiro- o sétimo livro dos “pretos cativos” para registro de cativos, e nota que ao ganharem a alforria, não bastava apenas ganhar a liberdade. Seus nomes deveriam sair do “livro dos pretos” para o “livro dos brancos”. Soares observa também que a porcentagem de adultos batizados corresponde em maior numero (77,55%) de escravos minas. Esse elevado número se deve também a não realização de batismos nos portos de embarque da Costa Mina; enquanto que os vindos de Angola, eram batizados em São Paulo de Luanda. Portanto, como esse registro era feito apenas uma vez, o numero de angolanos na cidade do Rio de Janeiro registrados era menor do que os vindo de Mina.
Esses escravos traziam junto ao nome a indicação do “gentio” ou “nação” a que pertencem, mostrando a convivência de dois sistemas de classificação e organização da escravaria africana. Diferenciando os dois termos, Soares diz que a palavra gentio está associada àqueles que seguem a chamada lei natural, diferente dos cristãos e judeus, e era usada para designar os povos almejados pela catequese missionária, enquanto que a palavra nação diz respeito á um país ou região que possuem leis, línguas e governos a parte e se aplicava a cristãos ou infiéis, com o qual o Estado português se relacionava. Diferencia os termos também pelo período de tempo em que foram usados. ‘Nação’ foi usado durante todo o tempo, desde o século XV ao século XIX, enquanto que ‘gentio’ cai em desuso no século XVIII. Apesar disso, os escravos vindos de Guiné eram sempre classificados como gentio.  
Essas distinções eram necessárias, pois havia uma diferença de tratamento dos escravos de acordo com sua procedência. Soares chega a essa conclusão embasada nas anotações do vigário Ignácio Manoel, as quais essas diferenças de tratamento são relatadas.
Soares faz menção, e se contrapõe, ao antropólogo Herskovits, que baliza os estudos sobre os negros no Brasil, utilizando um artifício que o permitiu comparar as características culturais de um grupo de escravos do Novo Mundo com grupos étnicos africanos. Dessa maneira, Herskovits traça pontos em comum entre as culturas africanas e suas perpetuações no Novo Mundo. Mariza Soares se diverge desse pensamento herskovitiano, porque segundo ela “partem do pressuposto de que um grupo étnico se define em função de traços culturais que podem ser subtraídos, acrescidos ou transferidos, reaparecendo do outro lado do Atlântico sob forma de ‘sobrevivências’ ou ‘resistências’ da cultura africana’[1] e que essa perspectiva “se não desconsidera, pelo menos minimiza a importância das transformações porque passam segmentos de grupos étnicos transferidos de forma tão violenta de um continente para o outro.” [2]
Soares aponta que essas culturas são distintas, e que mesmo se os escravos tivessem optado pela reconstrução da cultura africana no Novo Mundo, sua cultura não seria a mesma. Para tal conclusão, soares ressalta a definição de cultura por ela utilizada. Tal conceito distancia-se da idéia de busca por traços originais e de resistência à mudança. Para ela, a cultura é algo mutável de acordo com o lugar em que se encontra. Ou seja, um grupo de procedência denominado “mina” no Rio de Janeiro pode ser diferente daquele designado como “mina” na Bahia ou em outras regiões do Brasil assim com na África. Segundo a autora esses grupos de procedência se constituem das relações entre escravos e as sociedades escravistas; e se de um lado esses grupos são tidos pelos livros paroquiais como uma forma de identificação e organização dos escravos, por outro lado os próprios escravos faziam uso dessa classificação como meio de se organizarem.
Nesse contexto, Marisa Soares exemplifica sua analise através dos registros de casamento de escravas, visto que acredita que estes são exemplares para análise da organização dos grupos de procedência na cidade do Rio de Janeiro. Os casamentos entre escravos eram favorecidos e vários senhores tinham o costume de casar seus escravos entre si. Mesmo que Soares não mencione isso em seu texto, o casamento é importante porque permite ao escravo constituir uma família, mantendo assim suas tradições e costumes, mesmo que essas tenham sofrido transformações; assim, se formavam laços de solidariedade horizontais entre os escravos, possibilitando assim a passagem de suas crenças a seus descendentes. Para os senhores, o casamento também era uma forma de recompensa pelo bom comportamento, sendo assim, este artifício, por mais que possibilite laços horizontais de solidariedade entre os escravos, impede de certa forma que eles se revoltassem contra seus senhores.
Marisa Soares diz que esses casamentos, forçados ou não, entre escravos de um mesmo grupo de procedência, podem ser explicados no plano de conveniência dos senhores. Mas, como o numero de casamentos era relativamente alto entre esses escravos de mesma procedência, a autora acredita que havia outros tipos de motivações e regras para acontecerem; fatores que vão para alem da disposição de seus senhores em casar suas escravas, mas que segundo Soares, essas fontes não revelam. Os dados sobre os casamentos de africanos na Bahia e no Rio de Janeiro mostram como as estratégias para a constituição dos grupos de procedência podiam variar.
Soares ressalta para o esclarecimento do conceito de identidade étnica e os mecanismos utilizados para sua identificação. O conceito está diretamente relacionado com o próprio conceito de cultura. Portanto, “tanto a cultura quanto a identidade étnica de um grupo estão em estreita ligação com as condições de vida da sociedade na qual estão inseridos.” [3]
A autora conclui que a identificação de um grupo étnico, num conjunto de escravaria, é possível pelas formas culturais e/ou interesses envolvidos na organização de um grupo. A identidade dos escravos é construída por via da combinação do grupo étnico a um grupo de procedência, sendo que podem ser atualizados de acordo com a ocasião. Segundo Marisa Soares, essa convivência entre grupos distintos de procedência ou iguais ajudam a formar uma identidade comum entre esses grupos, construída nas novas condições de cativeiro.
“Por fim, a possibilidade de recursos a múltiplos critérios para constituições de grupos (entre eles o grupo étnico e a procedência) termina por viabilizar a constituição de grupos que reivindicam até mesmo uma nova identidade “inventada” com base em formas culturais partilhadas pelo grupo naquele dado momento, independente da sua vida pretérita. As chamadas ‘nações’ de candomblé são um exemplo de tradições inventadas.” [4]


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


SOARES, Marisa de Carvalho – “Mina, Angola e Guiné: nomes d’África no Rio de Janeiro setecentista” .





[1]Marisa de Carvalho Soares  - “Mina, Angola e Guiné: nomes d’África no Rio de Janeiro setecentista” p.86

[2]  Idem 1
[3] Marisa de Carvalho Soares  - “Mina, Angola e Guiné: nomes d’África no Rio de Janeiro setecentista” p.91
[4] Marisa de Carvalho Soares  - “Mina, Angola e Guiné: nomes d’África no Rio de Janeiro setecentista” p.92

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
ICHS – Mariana
Nome: Fernanda Gabriella Silva Ribeiro
Data: 02/12/2011   Disciplina: América I
Prof.: Luis Estevan    Atividade Avaliativa (Paper) sobre Thomas Paine.

                              
“Sempre defendi vigorosamente o direito de todo homem à sua opinião própria, por mais diferente que ela possa ser da minha. Quem recusa esse direito a outrem torna-se escravo de sua própria opinião, já que se recusa ao direito de mudá-la.”
                               (Thomas Paine)

Este trabalho pretende fazer um apanhado geral a respeito das idéias contidas nos textos de Modesto Florenzano, Adriana Maamari e Bernard Bailyn acerca dos escritos de Thomas Paine e o ideal revolucionário ai contido. Para tal, começarei falando sobre o texto de Bernard Bailyn “As origens da Revolução Americana”, ao qual nos dá um apanhado geral sobre o gênero panfletário, adotado por Paine.
Bailyn começa seu texto conceituando o gênero panfletário, para depois expor suas peculiaridades. Segundo o autor, os panfletos eram “livretos que consistiam de algumas folhas de impressão, elaborada de vários modos, de forma a reproduzir vários tamanhos e números de paginas, e vendidos – as paginas costuradas frouxamente, sem encadernar e sem capa.” [1] Nesse contexto, os panfletos se tornaram alvo dos revolucionários, pois nele achavam a vantagem de ter a plena liberdade de expressão, de não possuir uma forma padronizada de escrita, além de terem baixos preços (devido à sua confecção precária), podendo assim alcançar um publico maior.
            Sendo assim, existiam panfletos mais curtos, de oito páginas, até os panfletos mais longos, que em média tinham de sessenta a oitenta páginas. Sobre as características presentes nesse gênero, Bailyn fala que “tinham uma rara combinação de espontaneidade e solidez, de ímpeto detalhe, de casualidade e cuidado”, os classificando em três categorias; (que seguirão no correr do texto).
            A primeira delas, ele coloca sendo aqueles panfletos que circulavam em maioria, contendo nos mesmos, respostas diretas aos grandes eventos da época, com assuntos polêmicos e preocupações políticas. Como exemplo, o autor usa a série de panfletos que começam a circular, contendo posições políticas e expondo teorias constitucionalistas norte-americanas diante da Lei do Selo. A segunda categoria seria aqueles que pertenceriam às “polêmicas pessoais de reação em cadeia” (como denomina o autor). Eram um tipo de debate, de trocas individuais com argumentos, respostas, réplicas e tréplicas. Nesse contexto, o autor encaixa Thomas Paine e seu panfleto “O Senso Comum”, que foi amplamente debatido e respondido por outros pensadores da época. O terceiro tipo que Bailyn apresenta, é aquele que se distingue pelo caráter ritualístico de seus temas e linguagem, que geralmente eram publicados anualmente, contendo discursos comemorativos em forma de panfletos; marcando assim, eventos políticos em vez de religiosos.
            Apesar desta forma classificativa, Bailyn ressalta que nem todos os panfletos que circulavam se enquadram nessas categorias.
            Durante a crise dos anos de 1760 a 1770, o numero de panfletos aumentou significativamente. Coloca que esses escritos formavam a literatura distintiva da evolução, expressando crenças, atitudes e motivações com objetivos que conduziam à revolução. Segundo o autor, esses panfletos publicados principalmente nas duas décadas antes da independência, são documentos do tipo político, não literário. Mas ao mesmo tempo, não despreza as qualidades literárias do mesmo, visto que expressavam os objetivos e o estilo de pensamento das pessoas que os escrevem. Os panfletos formam também o texto da literatura inglesa e jornalística dos séculos XVII e XVIII.
            Nesse ponto, Bailyn vai diferenciar os panfletos polêmicos britânicos dos norte-americanos. Segundo o autor, os panfletos norte-americanos assimilavam os recursos estilísticos próprios da grande época dos panfletos ingleses, mas ainda assim eram inferiores aos mesmos. Para argumentar essa afirmação, Bailyn vai aprofundando nas características do gênero panfleto. Seriam compostos por elementos como a sátira, a ironia, a parodia, a alegoria e o sarcasmo, por justamente buscarem – e alcançarem - efeitos literários. O uso de perguntas retóricas também é muito utilizado neste gênero, assim como a abundancia de aforismo, apóstrofes, hipérboles e personificação. Pretendendo assim, facilitar o fluxo de pensamento e a fixação da atenção. O que para Adriana considera ter sido o sucesso de Paine – texto que me deterei a falar posteriormente. Mas, mesmo utilizando esses recursos, os escritos panfletários norte-americanos, segundo Bailyn, continuam sendo inferiores aos de mesmo gênero escritos na Inglaterra nos séculos XVII e XVIII. Nesse contexto, o autor classifica os panfletos escritos nas 13 colônias como amadores diante dos polemistas ingleses. Chega a essa conclusão, porque os panfletos norte-americanos eram escritos por pessoas comuns, inseridas em diversas atividades como comerciantes, advogados e religiosos, que não eram profissionalizados, sendo a escrita política desses homens uma digressão incomum. É por via desse raciocínio, que o autor caracteriza a escrita panfletaria norte-americana como amadora se comparada com a inglesa. Segundo o autor, essas características são assumidas devido à falta de experiência técnica, explicando a rudeza dos panfletos revolucionários.
            Faz menção a Thomas Jefferson e John Adams, que também escreveram panfletos, mas não eram profissionalizados para isso; diz que apesar da boa escrita que possuem, não objetivam efeitos literários. O autor escreve: “Não é simplesmente uma questão de ausência ou de presença de imaginação literária ou habilidade técnica, mas de seu emprego. Os escritos artisticamente trabalhados eram de modo significativo – por razões que chegam ao cerne do movimento revolucionário- periférico em relação às grandes correntes de pensamento que se desenvolveram no período.” [2] Bailyn destaca apenas três panfletários norte-americanos que tiveram mais destaque, como James Otis, Thomas Paine e John Allen, porque estes traziam em sua escrita algo parecido com os panfletos ingleses.
            O texto Bailyn, de certa forma, parte de uma visão, que do meu ponto de vista, é elitista. Refleti isto tendo em vista o seu desmerecimento da escrita panfletaria norte-americana, estipulando um “padrão de escrita” para o mesmo, sendo este um  elemento que o gênero não comporta, como o próprio autor afirma no começo do seu texto. Ao comparar os escritos norte-americanos com os da Grã-Bretanha, e julgá-los inferior, acaba por negligenciar o próprio fato de que essa população estava inserida em territórios geográficos de continentes distintos, que sofrem por processos históricos também diferentes, implicando assim, que essa diferença seja refletida também na escrita. Alem do que, os textos panfletários norte-americanos foram escritos por pessoas comuns, como comerciantes, que não tiveram acesso ao estudo profissionalizante, mas nem por isso, seus textos são inferiores como aponta o autor. São apenas diferentes, porque os recursos que tiveram foram outros. Então, Bailyn tendo este tipo de posicionamento, acaba excluindo estes fatores; não se importando assim, com os reflexos do comportamento social expressos na escrita, tornando os textos norte-americanos inferiores aos ingleses, sendo que são apenas diferentes. Julgá-los como inferiores é obscurecer a criação daqueles homens.
            Já o texto de Modesto Florenzano “Thomas Paine Revisitando” mostra e explora Thomas Paine como pensador político, que foi relegado na historiografia, e até mesmo por seus pensadores contemporâneos, em lugar secundário e não apropriado, visto a sua originalidade e a contribuição que tiveram no seu tempo histórico tendo participado do processo de independência da França e dos Estados Unidos. Para tal, Florenzano faz um levantamento bibliográfico de autores que escreveram sobre Paine, além de reunir documentos contemporâneos referente ao mesmo. Faz isso na tentativa de construir outra imagem de Paine. Sendo assim vai mostrar que varias figuras importantes como John Adams e George Washington reconhecem a importância das suas idéias. A publicação de seus panfletos, que eram escritos em linguajar simples, venderam em muitos exemplares, sendo que após sua morte, havia sido publicado na Inglaterra mais de um milhão e meio de copias.
            Florenzano fala e questiona sobre o desmerecido esquecimento de Paine. Coloca que não é somente como pensador que é negligenciado, como interprete da Revolução Francesa também. No livro “Os direitos do homem” apresenta uma interpretação da mesma revolução, apontando suas causas e momentos iniciais e fazendo uma reflexão inteligente, antecipando muitos dos argumentos usados pela historiografia revolucionaria. O autor adjetiva Paine como ator, testemunho, interprete e pioneiro da Revolução Francesa. O que revela sua importância diante da historia e, portanto, quebra com essa corrente historiográfica que mantinha Paine no esquecimento. Talvez esse esquecimento possa ser atribuído pelos pensadores que o obscurecem, justamente por ter a mesma imagem que Bailyn tem sobre os escritos norte-americanos, de uma maneira geral, mesmo excluindo o próprio Paine. Florenzano faz referencias também à autores que escrevem sobre a teoria democrática e do liberalismo, como G. Sartori e N. Bobbio, onde praticamente o nome de Paine passa despercebido.
            Assim, Florenzano aponta que Paine foi o primeiro formulador e propugnador da combinação histórica entre liberalismo e democracia. Neste ponto C. B. Macpherson é citado pelo autor, visto que este escreve sobre o liberalismo democrático e se quer fala sobre Paine que foi precursor dessas idéias.
                        Mas que fatores poderiam explicar esse pouco reconhecimento? Segundo o autor, o preconceito intelectual que Paine tem sofrido pode ser explicado, em uma questão menor e mais singular, pela personalidade de Paine, onde Florenzano fala que ele era ao mesmo tempo radicalmente popular e presunçoso, mas também em um fato maior por ter sido ao mesmo tempo liberal e democrático; posicionamento original e estranho para época. Paine seria um liberal puro e radical porque concebia negativamente o Estado (poder) como o fez em “O senso comum”. Mas ao mesmo tempo, também era tido como um democrata, também puro e radical, porque, segundo o autor, só um democrata seria capaz de propor um programa de assistência social.
            Thomas Paine critica os maus governos monárquicos, dizendo que estes são responsáveis pela pobreza existente. Diferente do posicionamento de Burk, Tocqueville e H. Arendt, citados também por Florenzano, que consideram que o governo não pode fazer nada para eliminar a pobreza, porque quando assim o faz, acaba por agravá-la. Segundo os contemporâneos de Paine, seus panfletos eram revolucionários não só no conteúdo, como também na linguagem, visto que suas criticas a monarquia e á aristocracia foram arrasadoras. Segundo o autor, Paine abriu caminhos para que Marx e Engels pudessem elaborar suas criticas livremente, visto a censura sofrida por Paine. Florenzano acredita que no escrito “Dissertation on first principles of governament” em 1795, encontra-se a formulação mais completa de Paine sobre sua filosofia política e racionalista, alem de sua teoria democrática e representativa das formas de governo existente. Neste texto, Paine apresenta suas concepções sobre a propriedade, à igualdade política e o governo; elementos estes, que formam o ideário liberal e democrata. Também critica a posse de terras como critério para o voto.
            Sendo assim, seus escritos têm muita importância e relevância, visto que foi um pensador que assumiu, pioneiramente, um posicionamento liberal e democrático. Para o autor, esse é ponto que confere originalidade aos escritos de Paine e Burke, visto que assumem posicionamentos ao mesmo tempo liberal-democratico e liberal-conservador, consecutivamente, num período histórico onde que era liberal não era conservador e que era democrata não era liberal.
            Bailyn apresenta diferenças entre Paine e Burke. O ultimo apresenta o Estado como “uma associação não só entre vivos, mas também entre os mortos e os que irão nascer”, eliminando assim todo direito à revolução e à possibilidade de ruptura institucional. Enquanto que Paine, ao contrario, concede direitos e legitima a ruptura com a Inglaterra, com a idéia de uma “revolução permanente”, onde cada geração criaria suas próprias leis e instituições. Paine diz:
Estou lutando pelo direito dos vivos e contra o fato de serem alienados, controlados e constrangidos pela pretensa autoridade dos mortos sobre os direitos e a liberdade dos vivos. [...][3]
Burke nega o direito à revolução com a firme idéia de que o passado deveria governar o presente, sendo que Paine tenta desconstruir esse elemento da primogenitura e da hereditariedade.
            Seguindo a lógica de argumentação de Paine, Florenzano conclui que, segundo os panfletos de Paine, todos os sistemas são legítimos, desde que desejados pela população. Mas também seria transitório ou reversível, quando a mesma, ou uma nova maioria assim quisesse.
            Nesse contexto, Adriana Maamari em seu texto “A República e a Democracia em Thomas Paine”, no capitulo três “O panfleto: instrumento de instrução publica e de formação de cidadãos”, faz uma análise do discurso dos panfletos de Thomas Paine, mostrando a influência de sua obra para seus contemporâneos e sucessores.
            Segundo Adriana Maamari, a escrita política de Paine foi tão popular devido ao estilo de seus panfletos que tenta abarcar um público geral, adotando uma escrita mais simples. Paine tem a finalidade de convencer a população, para que haja a mudança de opinião e em seguida a tomada de ação da população.
            Thomas Paine era coletor de impostos. Sua popularidade começa aí, ao organizar um movimento de protesto entre os coletores para obtenção de melhores salários; foi a primeira vez na história que os panfletos direcionados à trabalhadores foi redigido. Sendo assim, seus textos – segundo a visão de Maamari – antecedeu o tipo de texto difundido pelo movimento sindical mais tarde.
            A origem social de Paine é menos favorecida e não anglicana, impedindo-o de ter acesso à estudos mais elevados; fator que não desmerece nem inferioriza seus panfletos, que colocam em discussão temas que até então não eram debatidos com a condição das pessoas socialmente desfavorecidas.
            Ao quebrar com a imagem de uma Inglaterra justa equilibrada, tida pela aristocracia local, visto que a maioria dos cidadãos vivia em condições miseráveis. Daí o fato de se oporem a Pain, como aponta o texto de Florenzano. Em 1773, é demitido quando transforma um panfleto direcionado à denuncia da situação precária dos cobradores de impostos em petição, tendo o objetivo de convencer o parlamento sobre o caso, denunciando o excesso de trabalho e a baixa remuneração; o que mostra seu direcionamento favorável à justiça social. Para tal reivindicação, Paine usa argumentos como o excesso de horas trabalhadas, devidos às obrigações que tomam quase o tempo integral de suas vidas, os impedindo de ter momentos de repouso ou lazer, ale os impedirem de constituir família, sendo a solidão conseqüência da profissão exercida. Essa ênfase retórica de comparação com outras profissões é usada por Paine para classificar o oficio de cobrador de impostos como pior que os outros, tendo, portanto, o direito às melhores condições de trabalho. Denuncia a corrupção dentro do oficio, como conseqüência dessas más condições de trabalho frente à indignação desses homens que enchem os cofres públicos, mas continuam miseráveis.
            Paine também foi pioneiro em reclamar em favor do direito à cidadania dos negros e aos direitos da mulher, mesmo não aprofundando nas causas. Propõe ações muito avançadas para sua época, como um tipo de assistência social que amparasse as crianças pobres com escolas gratuitas, recursos direcionados à velhice alem de recursos para jovens que não possuíam heranças, no intuito de dar chances iguais entre os filhos dos pobres e dos ricos. Neste ponto podemos relacionar o texto de Florenzano, quando aproxima as idéias de Paine ao sindicalismo, nascido posteriormente.
            Após 1775, seus textos apresentam-se também com um caráter de ação separatista entre o norte da America e a Grã-Bretanha, onde denomina de “independência”. Nesse contexto, Maamari fala sobre o panfleto de Paine publicado em 1776, “O senso comum”. Na escrita deste texto, Paine é orientado pelo médico Benjamin Rush, da Filadélfia, visto que este não queria assumir a autoria deste panfleto pelo fato de que seu conteúdo demasiado engajado pudesse abalar sua carreira profissional. Apesar dos conselhos de Rush para o não uso das palavras “independência” e “república”, Thomas Paine faz apropriações das mesmas nesse panfleto. Cerca de mil e quinhentos exemplares são editados no decorrer deste mesmo ano, recebendo até mesmo tradução para o francês, sendo publicado na França nos “Affaires d’Angleterre” e “d’Amérique”. Lá, esse texto passa a ser atribuído a John Adams. A partir desse ponto, Adriana Maamari traça as principais diferenças entre os dois pensadores. John Adams além de puritano e estudado em Harvard era um homem que saiu da boa sociedade colonial, admirando o sistema governamental inglês. Já Thomas Paine não era anglicano nem ao menos recebeu educação superior. Vindo de camadas inferiores, defende a independência da América. William Smith era outro opositor às idéias de Paine publicando muitos artigos que fazem elogios ao Parlamento Britânico.
            Para a autora, o texto de Thomas Paine catalisou e inspirou a declaração de independência dos Estados Unidos. Na ultima parte de “O senso comum” é apresentado um projeto de governo, ao qual Adams é contrario, buscando tirar os méritos de Paine. Mas Adams não se atenta ao detalhe que o autor do panfleto não esta buscando convencer os membros do congresso ou a elite intelectual, mas sim atingir o povo americano, com argumentos que expõe a necessidade de separação da Inglaterra, declarando que as colônias não a reconheciam mais sua autoridade, seja pela figura emblemática do Rei ou do Parlamento. Na concepção de Maamari, o sucesso adquirido pelos panfletos de Paine, se deve ao fato da persuasão das massas a aceitar as novas idéias, sendo este um elemento bastante difícil de alcançar. Nesse quesito Maamari fala:
“É um trabalho na direção de compreender a psicologia das massas, em que parte-se das idéias já comumente admitidas para então apresentar as novas, numa linguagem que torna clara e concreta às aspirações confusas do povo. Nesse sentido, Paine domina a arte do panfleto e é esta a principal razão de seu sucesso, o que não deixa de impressionar inclusive o próprio autor que declara-se surpreso com a emoção que casou nas massas.” [4]

            A primeira parte do panfleto “O senso comum” trata da origem e dos objetivos dos governos em geral, diferenciando sociedade – criada para assegurar as necessidades dos homens em geral - e governo – instituído para suprimir no homem a falta de moralidade. Sendo assim, o governo se tornou necessário pelo aumento da coletividade, visto a natureza do homem incapaz de suportar a solidão. A segunda parte fala da monarquia e do poder hereditário. Prega a idéia da igualdade entre os homens, não havendo justificativa, portanto, para a diferença entre o rei e seus súditos; não se firmando a necessidade de estabelecerem privilégios para si e seus descendentes. Na terceira parte, Paine vai se dedicar aos negócios americanos (todo o continente).
            John Adams, seu oponente, considera a democracia como fonte de desordem publica e condena Paine pelo uso do termo. O mesmo responde que jamais havia usado o termo “democracia” em seu panfleto, falando diretamente aos cidadãos sem jamais precisar seu posicionamento sobre a democracia.
            Antes da escrita de “O senso comum” Paine era pouco conhecido, mas que depois de sua publicação todo o mundo político começa a falar sobre ele; criando desavenças com os colonos conservadores, que o tomam como traidor. Neste panfleto Paine discorre sobre obstáculos encontrados para se defender uma idéia que não se enquadra nos valores tradicionais. Essa conquista seria somente com passar do tempo, para que houvesse aceitação e penetração no imaginário das massas. Paine fala que quanto maior o grau de insatisfação de um povo, mais rápida pode ser a mudança de opinião de valores políticos.
            Dialogando com Bernard Vicent, Maamari conclui seu texto dizendo que os panfletos foram um ótimo instrumento usado pelos revolucionários, “porque atingiam de forma rápida e eficaz a penetração de idéias entre o povo, já que a mudança de opinião publica requer muito esforço, mesmo para aqueles que pensam fundamentados na razão, como é o seu caso. Segundo Bernard Vicent, os escritos de Paine, na qualidade de panfletos eram teóricos, porem nada abstrato: ‘... Tendem a mudar efetivamente e como que instantaneamente o coração dos homens, o curso das coisas, o sentido da história.’.”. [5]



REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Florenzano, Modesto - Thomas Paine Revisitado.

Maamari, Adriana - A Republica e a Democracia em Thomas Paine ______In: O panfleto: instrumento de inspiração pública e de formação dos cidadãos. USP, 2007, p. 163-184

Paine, Thomas Senso Comum. Há edições em Os pensadoes, vol.29, L&M(2009) e Martin Claret (2005)

Baylin, Bernard. As origens ideológicas da Revolução Americana. Bauru: EDUSC, 2003.


[1] Bernard, Bailyn As origens da Revolução Americana, p.24
[2] Bernard, Bailyn As origens da Revolução Americana, p.36
[3]Citação de Thomas Paine retirado do texto de Florenzano, Modesto Thomas Paine revisitado.
[4] Florenzano, Modesto Thomas Paine Revisitado, p. 178
[5]  Florenzano, Modesto Thomas Paine Revisitado, p. 183.