sábado, 5 de outubro de 2013

--- Sobre os mitos fundadores dos Estados Unidos.

A titulo de começo para refletir a cerca dos mitos fundadores dos Estados Unidos da America, pautar-me-ei nos textos de Leandro Karnal, Jack Greene e Bernard Bailyn, pensando nas possíveis ligações entre os mitos fundadores e o processo de independência dos EUA e, por conseguinte, com o processo de formação de identidade nacional. Nesses termos, deveremos fazer uma varredura sobre o desenrolar da independência dessas colônias, no intuito de desconstruir exatamente o mito fundador de que os EUA foram predestinados ao sucesso de sua união, mostrando como se deu realmente esse processo e quais problemas imbicava. Assim, devemos expor de forma breve o contexto psicossociocultural da Inglaterra e das Treze Colônias.
A principio, a negligencia praticada pela metrópole inglesa beneficiou (ainda que não intencionalmente) as treze colônias, tendo em vista que a Inglaterra estava enfrentando vários conflitos internos que tinham maior prioridade, não intervindo muito na dinâmica colonial. Esse quadro se reverte com a transformação do governo inglês em monarquia parlamentar, que confere à Inglaterra maior estabilidade política favorecendo a expansão e o controle do império colonial. Juntando com o aumento da produção provocada pela revolução industrial, que proporciona um mercado internacional maior, sobe-se o arrecadamento de fundos do governo. Com o aumento da produção, faz-se necessário uma expansão do mercado, tornando assim as colônias da America importantes para se alimentar esse processo industrial inglês, já que esta era base de extração de matéria prima e consumo. Ou seja, após a resolução de alguns conflitos internos mais imediatos, a metrópole inglesa tenta exercer domínios sobre as treze colônias novamente, que acostumadas com a chamada “negligencia salutar”, apresentam reações de oposição a essas praticas. Nesse contexto Leandro Karnal em seu texto “A formação da nação” tem a intenção de demonstrar os vários fatores de oposição entre as 13 colônias e a coroa Inglesa através desses conflitos, relacionando-os com o processo de independência.
Tais conflitos, segundo Karnal, existiam como forma de resistência dos colonos diante da tentativa da metrópole inglesa em intervir na dinâmica política, econômica e social novamente. Um grupo apenasse opunha, ate então, à esses conflitos contra a metrópole: os latifundiários. Esses por sua vez, também tiveram seus interesses econômicos prejudicados pela interferência da metrópole, principalmente no que diz respeito a taxas de exportação e importação, assim como o aumento de impostos em geral. Logo, se uniram aos demais colonos em prol de um objetivo comum, que era o rompimento definitivo das relações coloniais com a Inglaterra (Karnal, 2007).
Essas guerras serviram pra contrapor os interesses dos colonos aos da metrópole, despertando um sentimento comum entre as Treze Colônias. Sendo assim, como se desenvolveu o processo de construção da identidade nacional e o sentido de lealdade entre os cidadãos que não tem uma  conseqüência premeditada de um movimento político sem planejamento? Quais os problemas sofridos diante da construção de um sentimento comum durante esse período revolucionário? Para tal, o texto de Jack Greene “Identidades dos estados e identidade nacional à época da revolução americana” no auxiliará bastante.  Assim, o autor nos coloca a importância de primeiro compreender a natureza das lealdades e identidades de organização coletiva presente nas diversas unidades políticas que se uniram para formar a nação.
Ao contrario do que muitos estudiosos afirmam, o sentimento de identidade nacional não estava impregnado pelo anseio do surgimento de unidade, impulsionado pela formação de um estado nacional americano; eles queriam mesmo era se livrar do domínio inglês; esse era o objetivo comum. Como justificativa, Greene afirma que esse sentimento é inerente e próprio da colonização inglesa, tendo em vista que, já no período Elisabetano (no final), era muito nítido e bem articulado o sentimento de identidade nacional ingles, onde a superioridade marítima e comercial da nação inglesa se fazia um dos principais elementos significativos dessa identidade. Alem disso o sistema inglês trazia a tradição da subordinação das leis do monarca à júris consensuais e parlamentos. Tudo isso se passava ao mesmo tempo em que começavam a se formar as primeiras colônias inglesas na America. Sendo assim, os colonos vindos para a America traziam consigo vínculos fortes com a cultura inglesa e com o sentimento de identidade nacional implícita nela. É nesse sentindo que Greene aponta os constantes conflitos entre os colonos e a coroa como fator importante nesse processo de formação da identidade nacional, porque ele parte primeiramente nas raízes dessa união em prol de um inimigo comum.
As objeções impostas pela metrópole às colônias – como cobrança de impostos e a intromissão do governo em assuntos internos sem o consentimento dos colonos, alem do modo agressivo como eram impostos - mostra a importância da manutenção de uma identidade comum; objetivando, portanto, um reconhecimento também por parte da Inglaterra. Greene ressalta um ponto importante quando coloca que, embora a identidade desses colonos fosse impregnada por características britânicas (como o protestantismo, nascidos livres) sempre foram mediadas por outro conjunto de identidades coloniais. Tudo isso em detrimento do espaço físico, manifestada através de uma forma especifica de organização socioeconômica e cultural. Jack Greene diz:
“Se os colonos possuíam uma identidade britânica em comum, essa identidade existia, portanto, em simbiose com outra identidade que tinha uma base local e social, explicações e justificações históricas, que era transmitida culturalmente de uma geração para a seguinte e era considerada consagrada.” (P. 102)[1]

A Simbiose das duas identidades, ainda que mantivesse vínculos fortes com a cultura inglesa, uma nova cultura acabara por emergir também. Junta-se  a cultura inglesa com a cultura regional, que ao tentarem ser expressos no novo território acaba por se resignificar, ainda que mantenha alguns valores ligados à esses sentimentos pré-existentes em decorrência de suas experiências vividas na Inglaterra. Ou seja, os colonos acabam criando identidades provinciais bem desenvolvidas, ainda que cada colônia tivesse suas particularidades com as quais se sentiam bem e se identificavam, dedicando orgulho e respeito à uma tradição. Outro ponto importante destacado por Greene foi que a tentativa de controle da Inglaterra sobre as colônias acaba por fazer reforçar essa identidade provincial. Assim, é exatamente essa identidade provincial que fazia-se por representar a principal forma de consciência coletiva , que segundo Greene, é o primeiro passo par ao sentimento de nação,m que proporcionou esse sentimento comum.
 “A revolução americana foi, ate um nível significativo, uma decorrência direta da resistência colonial àquelas medidas e deveria ser entendida como um movimento dos habitantes britânicos das colônias para garantir o reconhecimento de sua identidade britanica pela metrópole” (p.102)[2].
Esse processo culminou o aparecimento do chamado Congresso Continental, onde se discutiam idéias separatistas, que circulam em grande quantidade (devido ao advento da imprensa) movimentadas pelos escritos de Thomas Paine, Benjamin Franklin e John Locke (dentre outros), que participam da construção de ideias a cerca do movimento separatista. Bernard Bailyn em seu texto “As origens ideológicas da Revolução Americana” discute sobre a importância desses pensadores no processo de “união” e construção de uma constituição norte americana. Trata, portanto, sobre como desenvolveram as ideologias presentes no processo de independência. As necessidades que os colonos enfrentavam frente ao movimento de resistência da Inglaterra, promoveram a circulação de idéias que pudessem assegurar um estado livre, com poderes equilibrados e distribuídos. Em seguida, faz-se necessário também a discussão dos colonos em torno da maneira como se aplicará de forma efetiva esses ideais e suas implicações. Por isso se cria o Congresso Continental.
A grande questão é: como promover a união de colônias que possuíam objetivos e interesses completamente diferentes? Bernard Bailyn em “As origens da Revolução Americana” nos fala sobre a importância da constituição norte americana como o clímax das ideologias revolucionarias; sendo assim analisa o desenvolver dessas ideologias presentes no processo de independência, ainda que sejam complexas e difíceis de serem compreendidas. Esse desenvolvimento se da a partir de três processo, segundo este autor. O primeiro seria a necessidade dos colonos de ir frente ao movimento de resistência da Inglaterra, formulando idéias que assegurassem um estado livre, onde o poder seria distribuído de modo equilibrado. O segundo ponto seria a necessidade de da discussão entre os colonos para decidir o modo de aplicação efetiva dessas idéias e suas implicações. Dessa forma, pensam em direitos individuais, no significado atuante da soberania popular e como formariam um equilíbrio entre os interesses e necessidades de todas as colônias. O terceiro e ultimo, seria o próprio carta de declaração de independência. Bill off Rights.
 Jack Greene coloca que, foi assim que no congresso continental, Patrick Henry proclamou que as distinções entre as colônias não existiam mais – o que reforça a idéia de unidade (Defesa da união, anulando as distinções entre as colônias). Essa idéia segue via oposta aos postulados de Benjamin Franklin, que considera a grande diversidade de objetivos e ideais, alem de interesses pessoais divergentes, quando não opostos, impediria que houvesse a união das colônias mesmo que fosse para sua própria defesa; tendo em vista o medo de que algumas colônias pudessem se desvincular do movimento, levando em conta o caso de NY que desconfiam dessa união, por exemplo. Já as ideologias de John Adams, advertia para a diversidade das colônias, mas partindo do pressuposto de que todos vinha da mesma origem, a britânica, isso não era portanto um empecilho para a união das mesmas. Logo, Greene critica a idéia de que não havia um sentimento de identidade nacional (assim como propõe Karnal) porque esse sentimento comum, mesmo que não alcance um cunho nacionalista propriamente dito, daria origem ao mesmo. É nesse sentido que Karnal afirma:
                                    “Essa unidade, porem, não era tão fácil de ser sustentada. A                                      unidade contra os ingleses não significou em tempo algum um sentimento                             nacional de fato. A idéia de ser membro de um país deveria ser construída,                                  e essa construção não terminaria com a independência.” [3] (p.92)
Esse contexto de deformidade e de objetivos diferentes é que, segundo Karnal, se põe a baixo o mito fundador, que atribuía o sucesso da união das treze colônias ao advento do destino, da ajuda de deus. Tendo em vista que logo depois da Independência, inúmeros conflitos internos surgiram, e só foram resolvidos posteriormente, marcando de forma incisiva a sociedade da época, como a Guerra de Secessão por exemplo, Revolta do Selo e etc. Sendo assim, a união se deve a um consentimento de interesses e não de uma vontade divina de tornar os Estados Unidos um país, e principalmente, uma potencia.



REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

GREENE, Jack P. Identidade dos estados e identidade nacional à época da Revolução Americana.  In: PAMPLONA, Marco A.; DOYLE, Don H. (Orgs). Nacionalismo no Novo Mundo. Rio de Janeiro: Record, 2008.

BAILYN, Bernard. A literatura da Revolucao. In: As origens ideológicas da Revolução Americana. Bauru, SP: Edusc, 2003.

KARNAL, Leandro. A formação da Nação. In: KARNAL, L. Historia dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2ª Ed. São Paulo. 

                                



[1] GREENE, Jack P.  Identidade dos estados e identidade nacional à época da Revolução Americana. 
[2] GREENE, Jack P.  Identidade dos estados e identidade nacional à época da Revolução Americana.  P.102
[3] KARNAL, Leandro. A formação da Nação: Historia dos Estados Unidos: das origens ao século XXI, P. 92
-- Calle 13 LatinoAmerica e o conceito de America Latina.

pensar na construção do termo “latino-americano”. O conceito foi criado em 1836 na França, no intuito de reforçar e reafirmar o imperialismo francês sobre os países de língua espanhola, assim como fazer frente ao avanço imperialista dos Estados Unidos sob os mesmos países. Já o conceito de “Pan-americanismo” surge tempo depois nos EUA, aproximadamente um mês antes da Conferência Internacional Americana de 1889, onde houve a substituição do nome para “Conferencia Pan-Americana”. Na tentativa é claro, de fazer frente à dominação ideológica dos franceses sobre os povos da America hispânica; sem nos esquecer que depois da independência dos EUA cresce de modo constante a busca por anexos de novos territórios ao país, como foi o caso do México. É justamente nesse processo que os países da então denominada America Latina, se apropriam do termo e atribui-lhe outro significado, construído de modo a afirmar o que realmente seria essa identidade comum ao qual querem reconhecimento, tornando mais valido e forte para se posicionar frente aos Estados Unidos e à França, já que os países completamente separados ficavam vulneráveis às intervenções exteriores.
            O texto de Alain Rouquié “O Extremo-Ocidente: Introdução à America Latina” nos faz pensar em primeiro plano o discurso de alteridade e o caráter etnocêntrico adotado para descrever/adjetivar e mesmo classificar, os países da America central e sul, dentro de uma dinâmica completamente heterogênea e desconhecedora das reais singularidades que distingue os países entre si, tendo em vista que tiveram processos e agentes históricos diferentes, que prescreveram rumos diferentes no desenvolver social, político, econômico e cultural. No prefacio do texto, ao se referir aos povos já existentes na America antes das chegadas dos europeus, usa o termo “civilização” entre aspas. Mas porque? Notamos então, que já de começo o autor parte de um molde civilizatório segregacionista e etnocêntrico, seguindo os moldes europeus. Citando Lucien Febvre, usa o termo “laboratório latino-americano” como um adjetivo para os países que aí estão inseridos (apenas pela ótica eurocêntrica), demonstrando supremacia ante os mesmos.
O conceito de America Latina trabalhada por Alain Rouquié segue na dinâmica de um instrumento de delimitação preciso, mas bastante confuso. Confuso porque gera uma grande problemática: Quais países entram na demarcação da América Latina? E preciso porque parte da bifurcação (no grande geral) entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Assim eles são classificados a partir do nível de seu desenvolvimento industrial e econômico, assim como pela idioma, território. Um fato que realmente somos obrigados a concordar com Rouquié é que um desses elementos de comunhão com grande maioria desses países seria um fator cultural voltado para a mestiçagem, não só se tratando de cor, mas também dentro de uma dinâmica cultural mestiça. O termo “latino América” deligencia de uma maneira etnocêntrica englobar todos os países que, segundo o autor, se identificam pela questão da mestiçagem e principalmente pelo subdesenvolvimento industrial (atrasado) para poder fazer referencias. Tendo em vista que o objetivo do termo era criar uma consciência de unidade, a falta de preocupação com as especificidades de cada um, ou seja, a generalização, não favorece nenhum surgimento que se remeta a algo dessa instancia.
Devemos pensar a construção de uma identidade subcontinental “comum” e forte, para justificar o emprego do conceito de America Latina, usado para classificar os países da America do sul e central, assim como o México. Por conseguinte essa classificação faz sobressair a zona política em relação à zona geográfica. Comuns alem de tudo, porque todos esses, de acordo com Rouquié, foram dependentes do mercado mundial como produtores de matéria prima e bens alimentares – ponto de vista completamente reducionista e que reproduz o imaginario de “dominador” que esses países possuem, ate os dias atuais inclusive. Esse movimento descarta a diversidade e peculiaridades dessas nações. Somos países tão disparos em tantos pontos, tanto em economia, quanto territorial, língua, relações sociais e culturais. O conceito de latino-america tenta, por via de um discurso de alteridade etnocêntrico, abraçar esses países, propagando um sentimento de unidade por via desses termos.  Sendo assim, os latinos americanos seriam todos os países em vias de desenvolvimento e não dependem simplesmente da historia, encontrando-se igualmente em estruturas análogas e com problemas idênticos. Conceito que foge totalmente do preocupar com as especificidades de cada pais e, a forma como ele usa o adjetivo idêntico, nos da idéia do generalizar, justamente porque ele é um Francês e não um latino Americano, caso contrario teria a mínima noção de que nossos problemas não são nem um pouco “idênticos”. Para Rouquié, esses países possuem em comum a miséria, a desgraça; cultivam a cultura da pobreza.
Os latinoamericanos por sua vez, apresentaram uma resposta diante a essa disputa entre França e EUA. De acordo com Arturo Ardão no texto “Panamericanismo e Latinoamericanismo” explica por outras vias de interpretação as conseqüências que esses conceitos provocaram dentro do conjunto de países disputados. A título de começo, o autor nos insere dentro de um contexto histórico bem mais amplo que Rouquié, tendo em vista que nos da dimensão de criação (e seus reflexos) dos dois termos. Identifica também o processo de imposição de ideologias tanto da frança, quanto dos EUA, com sua “Doutrina Monroe”.
Dentro desse processo de construção do termo de America Latina, surge o latinoamericanismo, que circula aqui devido ao intercambio de intelectuais hispanoamericanos que estavam na França. O conceito, por sua vez, também recebeu outra apropriação, mas dessa vez partindo dos próprios “latinoamericanos” para fazer frente tanto aos EUA, quanto à França. Essa nova imagem seria a imagem que condecora seu próprio espaço, de modo a reconhecer suas diferenças e especificidades, ainda que o referente mestiçagem seja bastante evocado por fazer realmente parte do contexto social que se inserem. O processo de definição e aplicação do conceito de America Latina desaparece como contradição interna e ganha espaço nas discussões exteriores.  Nestes termos, os próprios latinoamericanos criam a imagem comum de um conjunto de países que, apesar de terem sido explorados ao seu máximo, de terem tido sua população nativa dizimada, de terem que “aceitar” um padrão sociocultural europeu, reconhecem o processo histórico pelo qual foram submetidos de forma totalitária e injusta, distanciando o emprego da  imagem de vitimizados. Isso porque os significados dessa expressão nos fazem inferências a algo que é menos que o outro e que por sua vez, mantém dependências históricas e dependências presentes (tanto econômicas quanto culturais); Imagem contraria à que os próprios latinoamericanos querem fazer reconhecida.
            A musica “Latinoamérica” da banda porto-riquenha Calle 13, nos apresenta exatamente este contexto, tanto em seus versos quanto na difusão semiótica das imagens do clipe. A começar pelo primeiro verso da musica: “Soy, soy lo que dejaron... Soy toda la sombra de lo que robaron” que segue de modo concomitante com a imagem de um coração batendo. Esses elementos nos fazem referencia a justamente a esse contexto de apropriação de um novo signo ao conceito de America Latina, construído pelos próprios latinoamericanos. Sendo assim, eles se afirmam exatamente diante dessa disputa entre EUA e França, de modo que tenham reconhecimento mundial; justamente por isso se faz uso do verbo sou como mecanismo de afirmação, denotando um posicionamento consciente dessas nações do que realmente elas são, das verdadeiras características que as ligam. “Sou aquilo que restou do que roubaram”,  verso que se liga as antigas civilizações  já existiam muito antes da chegada dos europeus e que, quando chegaram, “roubaram” a verdadeira identidade do que eram por via enfática da difusão de seus padrões culturais, sociais, políticos e afins  de maneira violenta e que visava apenas a exploração dos recursos naturais e mão de obra que as “novas” terras ofereciam. Para tentar representar o que seria essa nova imagem construída pelos latinoamericanos, farei uma seqüência de analise de alguns versos que nos ilustram isso.
Eu sou o sol que nasce e o dia que morre
Com os melhores entardeceres
As mais belas paisagens se encontram no nosso território latinoamericano.
“Sou o desenvolvimento em carne viva
Um discurso político sem saliva”
Esse verso, por sua vez, esta exatamente contradizendo a idéia de Rouquié a despeito das classificações pautadas na classificação de desenvolvimento e subdesenvolvimento.
“As mais belas faces que conheci
Sou a fotografia de um desaparecido”
Nos relembrando a discussão historiográfica de que a América não tem história. Visto que a fotografia faz alusão a um passado congelado e recortado daquilo que não existe mais.
O sangue em suas veias
Sou um pedaço de terra que vale a pena
Uma cesta com feijão, eu sou Maradona contra a Inglaterra
Anotando-te dois gols”

“Sou o que sustenta minha bandeira
A espinha dorsal do planeta, é a minha cordilheira”
Já estes versos são de extrema importância pro que ressaltam a total consciência de que eles foram e são e serão a “espinha dorsal” do planeta, ou seja, aquele que dá sustentabilidade aos demais países. Versos importantes que demonstram uma apropriação oposta àquela francesa.

De acordo com Ardão, os anos de 1948 simbolizam um marco histórico de extrema importância para reconhecimento, em dimensão mundial, do novo signo que o termo latinoamerica construíra, devoto de uma construção própria do latinoamericanismo (aos moldes latinos simbolizado pela criação da CEPAL, etc). Já o conceito de panamericanismo foi cada vez mais entrando em desuso, causado pelo pensamento critico da America Latina, (contradizendo os dizeres de Rouquié no que diz respeito à sua afirmação sobre a falta de alcance de discussões em torno das reformas de base – vamos chamar assim- ao âmbito político e teórico, social e cultural; o que não é verdade). Hoje, em decorrência desse fato, se usa a reconfiguração do termo “inter-panamericanismo”.  (texto incompleto)
SOBRE O ESTADO


Tendo como base o texto de Antônio Bosco de lima “Estado, politicas publicas e Educação no Brasil” entramos na discussão sobre o estado centralizador e estado gerencial onde ele aponta as principais características de cada um, tomando como ponto de partida a concepção de Estado liberal para explicar quais foram as consequências do processo de superprodução, no que diz respeito à reorganização do Estado e das politicas educacionais.
A logica liberal da economia acredita que o papel do Estado moderno é somente um mediador de conflitos entre grupos sociais preservando então “interesses comuns” e, portanto, não deveria haver uma intervenção estatal no desenrolar da economia. Esse viés de pensamento, que segue a mesma linha de Keynes, nos traz elementos para pensar a economia através de uma articulação entre politica econômica e politica social; nesse caso, a presença do Estado é fundamental para manter tanto o sistema politico quanto o econômico embasados no liberalismo. O Estado para os liberais é descentralizado, propicia uma mistura entre o privado e o publico por meio das privatizações. Estas medidas proporcionam uma gestão mais flexível, que garantem uma maior autonomia da administração. A descentralização vai por via reversa ao Estado de bem estar social, que é um Estado de cunho mais centralizador e assistencialista, que promove politicas sociais, mas também controla o consumo e o girar da economia; contraria aos ideais liberais e neoliberais.
Podemos tomar como exemplo de postura política assistencialista o período em que Getúlio Vargas governou, justamente pela promoção de diversas políticas publicas e pela criação de grandes empresas que, até então, pertenciam integralmente ao governo federal, como a Petrobrás, alem de outras intervenções que giram no cenário cotidiano do trabalhador, que são os sindicatos, tendo em vista que as leis trabalhistas acabam por interferir de alguma maneira no processo de produção e no acumulo de capital, vamos dizer assim. Com a entrada de JK na presidência da República, este tipo postura foi praticamente abandonada, dando abertura ao capital externo e às privatizações de partes das ações do governo. Vemos então que este Estado de Bem Estar Social entra em crise, abrindo as portas para um Estado liberal e descentralizado, que dará inicio a um processo de reorganização social, acompanhado o processo de mudanças no modo produtivo.
Nesse caso, Bosco de Lima nos conduz a atribuir a crise do Estado ao seu modelo, desse modo a crise é atribuída à sua função de Estado, que pode ser estendido também para os modelos de políticas públicas e educacionais. Seguindo a lógica de coesão proposta nos enunciados, deterei apenas a falar da esfera educacional. Desse modo, o que esta em crise é o modelo de escola, e não a escola em si. “A questão é que a escola é um aparelho de Estado, que, para os neoliberais precisa ser controlado pelo mercado.” (p.147) Essa perspectiva nos apresenta uma visão dialética, pois a comunidade educacional precisa e, de certa maneira, exige uma escola democrática e já para os neoliberais, tem-se o oposto; para eles faz-se necessário a retirada do conteúdo político da escola.
Vemos então que a lógica capitalista neoliberal transita em todos os campos da ordem publica e, obviamente, privada. Se você exclui o conteúdo político da escola, cria-se uma sociedade que ira formar profissionais incapazes de ter uma visão mais critica do mundo em que esta vivendo, porque esse procedimento causa um “emburrecimento” da população, que se deixa seduzir por aquele aplicativo de influencia psicológica, que se chama marketing e propaganda, sendo induzido ao consumo; mas como os produtos se atualizam quase que diariamente, esse consumo aliado ao psicológico, provoca uma cadeia de consumo excessivo. Logo, para que haja capital para satisfazer esse desejo psicológico, faz-se necessário trabalhar. Entrando na lógica do sistema liberal. As escolas, que deixaram de ser aparada pelo Estado, ingressa de ponta nessa lógica de consumo, tendo em vista que seu amparo agora é efetuado pelo Organização Mundial do Comercio. Temos então uma disputa, entre governo neoliberal e comunidade educacional, pela escola.
Tudo isso se encaixa no modelo de organização gerencial, que estabelece um padrão que é orientado pelo mercado, “ou seja, os serviços prestados são direcionados pela caracterização da eficiência e eficácia” (p.148). Sendo assim, o processo educacional ficará em segundo plano, pois o produto é que esta sendo privilegiado e isso traz como conseqüência um desvio de função do estado que é prestar serviços sociais. Flexibilizar o serviço publico como uma empresa privada acaba por mudar as finalidades da prestação de serviços porque a otimização de recursos e a minimização dos gastos são incompatíveis com serviço publico de qualidade. Assim tem-se uma explosão de colégios e universidades particulares, que formam mão de obra para o mercado de trabalho e não um trabalhador que se reconhece enquanto cidadão.
Nesse contexto, a educação sofre uma reforma, onde o eixo central esta ligado à família. Aparentemente a grande maioria atribui determinados valores positivos à essa reforma, mas ao contrario do estão propondo, essa reforma deixa a escola cada vez mais desigual, retirando do Estado o dever de garantir suas políticas publicas. É importante destacar que essas politicas iniciam-se nos anos 1990, no governo FHC. Vemos então, que há um processo de descentralização da responsabilidade do Estado na educação e a subseqüente privatização da educação no país e a desqualificação das escolas publicas.
Atribui-se aos municípios e ao cidadão o que antes era dever do Estado, e que é incentivada por programas de desenvolvimento da educação, como o PED, que traz em seu eixo temático central a idéia de “todos pela educação”. Assim, o governo passa ao município a responsabilidade da educação, sendo cada escola responsável pela melhoria da qualidade de ensino. A família, a comunidade e a escola privada também assumem papeis importantes e distintos no processo de reforma escolar e de melhora da mesma. Outro problema levantado por esse método é a questão da avaliação das escolas, que são classificadas como boas ou ruins por meio de avaliações, criando uma idéia de competitividade entre as escolas, aumentando e reforçando ainda mais a desigualdade.
 A descentralização do estado e da sua atuação no processo educacional, atribuindo sua responsabilidade ao município e ao cidadão, proporciona ainda mais a corrupção, e assim, a verba destinada ao município não chega ate as escolas devido à este ato de vandalismo descarado, e como a educação agora está sob a tutela do Banco Central, logo os cidadãos que nela se formam não desenvolverão o conhecimento político necessário para que se tenha um posicionamento critico diante dessas situações.

No governo Lula, a idéia da educação como um direito do cidadão é retomada, recuperando o conceito de educação básica; o que antes era o FUNDEF – somente ate o fundamental, agora passa a ser FUNDEB – educação infantil ao ensino médio. Tem-se então, uma ampliação das políticas publicas e sociais, procurando fazer uma redemocratização do acesso à educação. Essas autoras nos proporcionam uma reflexão que nos ocasiona o levantamento de questões criticas a esse instrumento de avaliação das escolas, e da reforma escolar de um modo geral, e nos faz refletir que essas são as propostas jurídicas para educação – como o PED, mas na vida real não funcionam pelo excesso de corrupção e pela falta de conteúdos políticos no ensino. Então, quem nos garante esse direito à educação já que o estado se distanciou da sua real ocupação repassando a tutela do investimento na educação à organização mundial do comercio? O que diferencia essas propostas jurídicas da realidade das escolas brasileiras? São questões que nos fazem ser pensadas ao longo do texto. 
           Para definir o que é imagem, primeiramente devemos pensar no como definir o que é uma imagem. Se partirmos do pressuposto de que toda imagem deriva da produção consciente e inconsciente do sujeito, logo, qualquer imagem é uma representação daquilo que se imagina; a capacidade de imaginar. Não é um mero reflexo do pensamento, mas sim o momento em que este constrói uma ação, formando a imagem; portanto, podemos atribuí-la a função de criação, tendo em vista que o processo de imaginar nada mais é do que a construção de imagens dentro do pensamento. Nesse contexto, toda criação de uma imagem na dimensão do seria “real”, palpável, parte da materialização e dessa junção de consciente e subconsciente. não deixando de levar em consideração que essas imagens são compreendidas por outras pessoas alem das que as fabricam. Sendo assim, Martini Joly em seu texto “Introdução à análise da imagem” afirma que:
            “Não devemos esquecer, que, qualquer imagem é representação, isso não    implica que ela utilize necessariamente regras de construção. Se essas          imagens são compreendidas por outras pessoas alem das que as fabricam,      é porque existe entre elas um mínimo de convenção sociocultural.” [1]                                                                                                        (Joly, 2006)
Neste caso, a imagem é adjetivada como um discurso de cunho visual, representando um tipo de linguagem e, sendo assim, pode ser classificada e analisada como tal.
“Considerar a imagem como mensagem visual de signos equivale, como linguagem e, portanto, como uma ferramenta de expressão e comunicação. Seja ela expressiva ou comunicativa, é possível admitir que uma imagem sempre constitui uma mensagem para o outro, mesmo que este outro seja nos mesmos.” [2] (Joly, 2006)
Neste contexto, podemos nos apoiar na teoria seimoliguistica, que nos fornece elementos capazes de fazer compreender a linguagem como indissociável de seu contexto social e histórico; o que Patrick Charaudeau (e outros teóricos como Saussure – trabalhado no texto de M. Joly), teórico da analise do discurso, chama de contexto psicossociocultural, que engloba a dimensão do psíquico, da dinâmica social/cultural e histórica. É fundamental, portanto, detectar a maneira como as diversas linguagens (incluindo a imagem), que são por si só formas discursivas, são organizadas, de modo a atender demandas provindas de circunstancias subjetivas, ou seja, aquela parte que incorpora o subconsciente, que se organiza o discurso. A linguagem e as diferentes estratégias de que ela se serve, tem a objetivação de produzir determinado efeito de sentido.
            Para tal, pressupõe-se que toda circunstância de comunicação exige um uso estratégico da linguagem, (que pode ser o discurso verbal/escrito, visual) apropriado às suas especificidades e determinado pelas intenções comunicativas dos sujeitos envolvidos no processo. Sendo assim, no caso da linguagem visual, elementos simbólicos como enquadramento, contraste, brilho, assim como elementos de continuidade e ruptura, composição, perspectiva, formas, texturas e etc, fazem parte da estratégia de cada produtor de uma imagem como meio de se fazer transmitir a mensagem, seja ela representada de modo implícito ou explicito pela imagem. Portanto, a imagem é um tipo de signo, apresentando então, um conjunto de significantes e de significados, alem de comportar elementos formais e experiências sensoriais. Nesses termos, ao se estudar uma imagem, devemos observar tudo isso, assim como também não podemos deixar de prestar atenção na materialidade da mesma, ou seja, voltar também a percepção para o suporte a qual esta inserida, que tipo de tela e/ou material foi usado para confeccionar a imagem e etc. Não deixando de lembrar que a imagem não precisa ser necessariamente matéria, pois existem as imagens imateriais também, como a memória, os sonhos, aquelas que pairam na dimensão das estruturas psíquicas. Portanto, a “teoria semiótica permite-nos captar não só apenas a complexidade, mas também a força da comunicação pela imagem.” [3] Assim, a semioliguistica e os estudos discursivos (análise do discurso) nos ajudam a entender metodologicamente como essas imagens podem ser tratadas.
            No texto de Jacques Rancièr “A partilha do sensível”, o autor contextualiza sobre as noções de modernidade, e nos coloca a pensar sobre as novas formas de arte (as quais as imagens se encaixam), ainda que não totalmente esclarecedoras, relacionando a dimensão estética com a dimensão política. Dessa forma, associa-se, na singularidade de um regime particular das artes, o modo de produção das obras (imagens), ou praticas com as formas de visibilidade e modos de conceituar as mesmas. Assim, no que diz respeito aos modos de classificação ocidental para distinguir o que é arte, estando a imagem intrínseca a esse debate, tem-se uma subdivisão em três grandes regimes de identificação: regime ético, poético e estético das imagens, associados assim à essa partilha proposta pro Rancière.
           Neste tipo de divisão, a arte adentrada no do regime ético não é, segundo Rancière,
“não é identificada enquanto tal, mas se encontra subsumida na questão das imagens. Há um tipo de seres, as imagens, que é objeto de uma dupla questão: quanto à sua             origem e, por conseguinte, ao seu teor de verdade; e quanto ao seu destino: os usos que tem e os efeitos induzem.” [4]                                                                                                                 
O teor de verdade, por conseguinte, nos associa às concepções platônicas de representação, que seriam categorizadas como não fieis à realidade. Platão coloca que “a arte não existe, existem artes, maneiras de fazer. E é entre elas que se traça a linha divisória: existem artes verdadeiras, isto é, saberes fundados na imitação de um modelo com fins definidos, e simulacros de arte que imitam simples aparências.” (Rancière; 2009)  O grande problema do regime ético é que se permanece à deriva dessa dicotomia da representação, questionando a verdade ou a inverdade do objeto artístico (ressaltando que a imagem se encaixa nisto tudo).
           O regime poético também conhecido como representativo, se associa diretamente à mimesis, pela sua maneira de ver, fazer e julgar; associando poiesis/mímesis. (Rancière, 2009). Esse fator nos chama atenção à discussão sobre a mímesis; de acordo com os dizeres de Rancière, o principio mimético:
“não é um principio normativo que diz que arte deve fazer copias parecidas com seus modelos. É, antes, um principio pragmático que isola, no domínio geral das artes (das maneiras de fazer), certas artes particulares que executam coisas especificas, a saber, imitações. Tais imitações não se enquadram nem na verificação habitual dos produtos das artes por meio de seu uso, nem na legislação da verdade sobre os discursos e as imagens.”
Ou seja, a mímesis é tida como uma tentativa de representação da “realidade” o mais verossímil possível, tendo em vista que o objetivo é captar a maior dimensão do real. Tendo em vista que este regime tem bases na teoria aristotélica, o problema da representação, estaria na tentativa de verossimilhança, porque isso implica uma representação ordenada, de modo a conduzir uma perspectiva mais próxima daquele real ao qual se quer representar; e isso, não se é possível, porque toda representação perde parte de sua originalidade e, portanto, não pode representar tal realidade na sua integra. Nos dizeres de Aristóteles, a retórica seria então, um conjunto de técnicas de imitação. “A mimesis é a lei que submete as artes à semelhança. [...] Não é um procedimento artístico, mas um regime de visibilidade das artes.[5]
            Nesse contexto, o regime estético das artes parte do pressuposto da identificação da arte no seu singular, retirando a obrigação de regras e temas. Por conseguinte, vai de linha oposta ao regime poético, justamente por propor uma reinterpretação daquilo que seria arte, não as classificando apenas pela distinção da sua maneira interna do fazer, mas sim “pela distinção de um modo de ser sensível próprio aos produtos da arte[6]. Nessa lógica, este tipo de regime rompe com a necessidade de representação mimética, que era o elemento responsável por fazer a distinção do fazer das artes aos demais fazeres.  
            Esses são alguns procedimentos metodológicos aos quais podemos tratar as imagens, assim como os recursos da Analise do Discurso nos proporciona para a interpretação dos signos lingüísticos (visuais) utilizados na imagem.



[1] Joly, Martini. “A análise da imagem: desafios e métodos” In: Introdução à análise da imagem. P.40
[2] Joly, Martini. “A análise da imagem: desafios e métodos” In: Introdução à análise da imagem. P.65
[3] [3] Joly, Martini. “A análise da imagem: desafios e métodos” In: Introdução à análise da imagem. P.40
[4] Rancière, Jaques. “A partilha do sensível”. (2009); P.28
[5] Rancière, Jaques. “A partilha do sensível”. (2009); P.30
[6] Rancière, Jaques. “A partilha do sensível”. (2009); p.32