sábado, 5 de outubro de 2013

           Para definir o que é imagem, primeiramente devemos pensar no como definir o que é uma imagem. Se partirmos do pressuposto de que toda imagem deriva da produção consciente e inconsciente do sujeito, logo, qualquer imagem é uma representação daquilo que se imagina; a capacidade de imaginar. Não é um mero reflexo do pensamento, mas sim o momento em que este constrói uma ação, formando a imagem; portanto, podemos atribuí-la a função de criação, tendo em vista que o processo de imaginar nada mais é do que a construção de imagens dentro do pensamento. Nesse contexto, toda criação de uma imagem na dimensão do seria “real”, palpável, parte da materialização e dessa junção de consciente e subconsciente. não deixando de levar em consideração que essas imagens são compreendidas por outras pessoas alem das que as fabricam. Sendo assim, Martini Joly em seu texto “Introdução à análise da imagem” afirma que:
            “Não devemos esquecer, que, qualquer imagem é representação, isso não    implica que ela utilize necessariamente regras de construção. Se essas          imagens são compreendidas por outras pessoas alem das que as fabricam,      é porque existe entre elas um mínimo de convenção sociocultural.” [1]                                                                                                        (Joly, 2006)
Neste caso, a imagem é adjetivada como um discurso de cunho visual, representando um tipo de linguagem e, sendo assim, pode ser classificada e analisada como tal.
“Considerar a imagem como mensagem visual de signos equivale, como linguagem e, portanto, como uma ferramenta de expressão e comunicação. Seja ela expressiva ou comunicativa, é possível admitir que uma imagem sempre constitui uma mensagem para o outro, mesmo que este outro seja nos mesmos.” [2] (Joly, 2006)
Neste contexto, podemos nos apoiar na teoria seimoliguistica, que nos fornece elementos capazes de fazer compreender a linguagem como indissociável de seu contexto social e histórico; o que Patrick Charaudeau (e outros teóricos como Saussure – trabalhado no texto de M. Joly), teórico da analise do discurso, chama de contexto psicossociocultural, que engloba a dimensão do psíquico, da dinâmica social/cultural e histórica. É fundamental, portanto, detectar a maneira como as diversas linguagens (incluindo a imagem), que são por si só formas discursivas, são organizadas, de modo a atender demandas provindas de circunstancias subjetivas, ou seja, aquela parte que incorpora o subconsciente, que se organiza o discurso. A linguagem e as diferentes estratégias de que ela se serve, tem a objetivação de produzir determinado efeito de sentido.
            Para tal, pressupõe-se que toda circunstância de comunicação exige um uso estratégico da linguagem, (que pode ser o discurso verbal/escrito, visual) apropriado às suas especificidades e determinado pelas intenções comunicativas dos sujeitos envolvidos no processo. Sendo assim, no caso da linguagem visual, elementos simbólicos como enquadramento, contraste, brilho, assim como elementos de continuidade e ruptura, composição, perspectiva, formas, texturas e etc, fazem parte da estratégia de cada produtor de uma imagem como meio de se fazer transmitir a mensagem, seja ela representada de modo implícito ou explicito pela imagem. Portanto, a imagem é um tipo de signo, apresentando então, um conjunto de significantes e de significados, alem de comportar elementos formais e experiências sensoriais. Nesses termos, ao se estudar uma imagem, devemos observar tudo isso, assim como também não podemos deixar de prestar atenção na materialidade da mesma, ou seja, voltar também a percepção para o suporte a qual esta inserida, que tipo de tela e/ou material foi usado para confeccionar a imagem e etc. Não deixando de lembrar que a imagem não precisa ser necessariamente matéria, pois existem as imagens imateriais também, como a memória, os sonhos, aquelas que pairam na dimensão das estruturas psíquicas. Portanto, a “teoria semiótica permite-nos captar não só apenas a complexidade, mas também a força da comunicação pela imagem.” [3] Assim, a semioliguistica e os estudos discursivos (análise do discurso) nos ajudam a entender metodologicamente como essas imagens podem ser tratadas.
            No texto de Jacques Rancièr “A partilha do sensível”, o autor contextualiza sobre as noções de modernidade, e nos coloca a pensar sobre as novas formas de arte (as quais as imagens se encaixam), ainda que não totalmente esclarecedoras, relacionando a dimensão estética com a dimensão política. Dessa forma, associa-se, na singularidade de um regime particular das artes, o modo de produção das obras (imagens), ou praticas com as formas de visibilidade e modos de conceituar as mesmas. Assim, no que diz respeito aos modos de classificação ocidental para distinguir o que é arte, estando a imagem intrínseca a esse debate, tem-se uma subdivisão em três grandes regimes de identificação: regime ético, poético e estético das imagens, associados assim à essa partilha proposta pro Rancière.
           Neste tipo de divisão, a arte adentrada no do regime ético não é, segundo Rancière,
“não é identificada enquanto tal, mas se encontra subsumida na questão das imagens. Há um tipo de seres, as imagens, que é objeto de uma dupla questão: quanto à sua             origem e, por conseguinte, ao seu teor de verdade; e quanto ao seu destino: os usos que tem e os efeitos induzem.” [4]                                                                                                                 
O teor de verdade, por conseguinte, nos associa às concepções platônicas de representação, que seriam categorizadas como não fieis à realidade. Platão coloca que “a arte não existe, existem artes, maneiras de fazer. E é entre elas que se traça a linha divisória: existem artes verdadeiras, isto é, saberes fundados na imitação de um modelo com fins definidos, e simulacros de arte que imitam simples aparências.” (Rancière; 2009)  O grande problema do regime ético é que se permanece à deriva dessa dicotomia da representação, questionando a verdade ou a inverdade do objeto artístico (ressaltando que a imagem se encaixa nisto tudo).
           O regime poético também conhecido como representativo, se associa diretamente à mimesis, pela sua maneira de ver, fazer e julgar; associando poiesis/mímesis. (Rancière, 2009). Esse fator nos chama atenção à discussão sobre a mímesis; de acordo com os dizeres de Rancière, o principio mimético:
“não é um principio normativo que diz que arte deve fazer copias parecidas com seus modelos. É, antes, um principio pragmático que isola, no domínio geral das artes (das maneiras de fazer), certas artes particulares que executam coisas especificas, a saber, imitações. Tais imitações não se enquadram nem na verificação habitual dos produtos das artes por meio de seu uso, nem na legislação da verdade sobre os discursos e as imagens.”
Ou seja, a mímesis é tida como uma tentativa de representação da “realidade” o mais verossímil possível, tendo em vista que o objetivo é captar a maior dimensão do real. Tendo em vista que este regime tem bases na teoria aristotélica, o problema da representação, estaria na tentativa de verossimilhança, porque isso implica uma representação ordenada, de modo a conduzir uma perspectiva mais próxima daquele real ao qual se quer representar; e isso, não se é possível, porque toda representação perde parte de sua originalidade e, portanto, não pode representar tal realidade na sua integra. Nos dizeres de Aristóteles, a retórica seria então, um conjunto de técnicas de imitação. “A mimesis é a lei que submete as artes à semelhança. [...] Não é um procedimento artístico, mas um regime de visibilidade das artes.[5]
            Nesse contexto, o regime estético das artes parte do pressuposto da identificação da arte no seu singular, retirando a obrigação de regras e temas. Por conseguinte, vai de linha oposta ao regime poético, justamente por propor uma reinterpretação daquilo que seria arte, não as classificando apenas pela distinção da sua maneira interna do fazer, mas sim “pela distinção de um modo de ser sensível próprio aos produtos da arte[6]. Nessa lógica, este tipo de regime rompe com a necessidade de representação mimética, que era o elemento responsável por fazer a distinção do fazer das artes aos demais fazeres.  
            Esses são alguns procedimentos metodológicos aos quais podemos tratar as imagens, assim como os recursos da Analise do Discurso nos proporciona para a interpretação dos signos lingüísticos (visuais) utilizados na imagem.



[1] Joly, Martini. “A análise da imagem: desafios e métodos” In: Introdução à análise da imagem. P.40
[2] Joly, Martini. “A análise da imagem: desafios e métodos” In: Introdução à análise da imagem. P.65
[3] [3] Joly, Martini. “A análise da imagem: desafios e métodos” In: Introdução à análise da imagem. P.40
[4] Rancière, Jaques. “A partilha do sensível”. (2009); P.28
[5] Rancière, Jaques. “A partilha do sensível”. (2009); P.30
[6] Rancière, Jaques. “A partilha do sensível”. (2009); p.32 

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