Para
definir o que é imagem, primeiramente devemos pensar no como definir o que é uma imagem. Se partirmos do pressuposto de que
toda imagem deriva da produção consciente e inconsciente do sujeito, logo, qualquer
imagem é uma representação daquilo que se imagina; a capacidade de imaginar.
Não é um mero reflexo do pensamento, mas sim o momento em que este constrói uma
ação, formando a imagem; portanto, podemos atribuí-la a função de criação,
tendo em vista que o processo de imaginar nada mais é do que a construção de
imagens dentro do pensamento. Nesse contexto, toda criação de uma imagem na
dimensão do seria “real”, palpável, parte da materialização e dessa junção de
consciente e subconsciente. não
deixando de levar em consideração que essas imagens são compreendidas por
outras pessoas alem das que as fabricam. Sendo assim, Martini Joly em seu texto
“Introdução à análise da imagem”
afirma que:
“Não
devemos esquecer, que, qualquer imagem é representação, isso não implica que ela utilize necessariamente
regras de construção. Se essas imagens
são compreendidas por outras pessoas alem das que as fabricam, é porque existe entre elas um mínimo de
convenção sociocultural.” [1] (Joly,
2006)
Neste caso,
a imagem é adjetivada como um discurso de cunho visual, representando um tipo
de linguagem e, sendo assim, pode ser classificada e analisada como tal.
“Considerar a imagem como mensagem visual de signos
equivale, como linguagem e, portanto, como uma ferramenta de expressão e
comunicação. Seja ela expressiva ou comunicativa, é possível admitir que uma
imagem sempre constitui uma mensagem para o outro, mesmo que este outro seja
nos mesmos.” [2]
(Joly, 2006)
Neste
contexto, podemos nos apoiar na teoria seimoliguistica, que nos fornece
elementos capazes de fazer compreender a linguagem como indissociável de seu
contexto social e histórico; o que Patrick Charaudeau (e outros teóricos como
Saussure – trabalhado no texto de M. Joly), teórico da analise do discurso,
chama de contexto psicossociocultural, que engloba a dimensão do psíquico, da
dinâmica social/cultural e histórica. É fundamental, portanto, detectar a maneira
como as diversas linguagens (incluindo a imagem), que são por si só formas
discursivas, são organizadas, de modo a atender demandas provindas de
circunstancias subjetivas, ou seja, aquela parte que incorpora o subconsciente,
que se organiza o discurso. A linguagem e as diferentes estratégias de que ela
se serve, tem a objetivação de produzir determinado efeito de sentido.
Para tal, pressupõe-se que toda
circunstância de comunicação exige um uso estratégico da linguagem, (que pode
ser o discurso verbal/escrito, visual) apropriado às suas especificidades e
determinado pelas intenções comunicativas dos sujeitos envolvidos no processo. Sendo
assim, no caso da linguagem visual, elementos simbólicos como enquadramento,
contraste, brilho, assim como elementos de continuidade e ruptura, composição,
perspectiva, formas, texturas e etc, fazem parte da estratégia de cada produtor
de uma imagem como meio de se fazer transmitir a mensagem, seja ela
representada de modo implícito ou explicito pela imagem. Portanto, a imagem é
um tipo de signo, apresentando então, um conjunto de significantes e de
significados, alem de comportar elementos formais e experiências sensoriais.
Nesses termos, ao se estudar uma imagem, devemos observar tudo isso, assim como
também não podemos deixar de prestar atenção na materialidade da mesma, ou
seja, voltar também a percepção para o suporte a qual esta inserida, que tipo
de tela e/ou material foi usado para confeccionar a imagem e etc. Não deixando
de lembrar que a imagem não precisa ser necessariamente matéria, pois existem
as imagens imateriais também, como a memória, os sonhos, aquelas que pairam na
dimensão das estruturas psíquicas. Portanto, a “teoria semiótica permite-nos captar não só apenas a complexidade, mas
também a força da comunicação pela imagem.” [3]
Assim, a semioliguistica e os estudos discursivos (análise do discurso) nos
ajudam a entender metodologicamente como essas imagens podem ser tratadas.
No texto de Jacques Rancièr “A partilha do sensível”, o autor contextualiza
sobre as noções de modernidade, e nos coloca a pensar sobre as novas formas de
arte (as quais as imagens se encaixam), ainda que não totalmente
esclarecedoras, relacionando a dimensão estética com a dimensão política. Dessa
forma, associa-se, na singularidade de um regime particular das artes, o modo
de produção das obras (imagens), ou praticas com as formas de visibilidade e
modos de conceituar as mesmas. Assim, no que diz respeito aos modos de
classificação ocidental para distinguir o que é arte, estando a imagem intrínseca a esse debate, tem-se uma
subdivisão em três grandes regimes de identificação: regime ético, poético e
estético das imagens, associados assim à essa partilha proposta pro Rancière.
Neste tipo de divisão, a arte
adentrada no do regime ético não é, segundo Rancière,
“não é identificada enquanto tal, mas se encontra
subsumida na questão das imagens. Há um tipo de seres, as imagens, que é objeto
de uma dupla questão: quanto à sua origem
e, por conseguinte, ao seu teor de verdade; e quanto ao seu destino: os usos
que tem e os efeitos induzem.” [4]
O teor de verdade, por conseguinte, nos associa às concepções platônicas de representação, que seriam
categorizadas como não fieis à realidade. Platão coloca que “a arte não existe, existem artes, maneiras
de fazer. E é entre elas que se traça a linha divisória: existem artes
verdadeiras, isto é, saberes fundados na imitação de um modelo com fins
definidos, e simulacros de arte que imitam simples aparências.” (Rancière;
2009) O grande problema do regime ético
é que se permanece à deriva dessa dicotomia da representação, questionando a
verdade ou a inverdade do objeto artístico (ressaltando que a imagem se encaixa
nisto tudo).
O regime poético também
conhecido como representativo, se associa diretamente à mimesis, pela sua
maneira de ver, fazer e julgar; associando poiesis/mímesis.
(Rancière, 2009). Esse fator nos chama atenção à discussão sobre a mímesis; de
acordo com os dizeres de Rancière, o principio mimético:
“não é um principio normativo que diz que arte deve
fazer copias parecidas com seus modelos. É, antes, um principio pragmático que
isola, no domínio geral das artes (das maneiras de fazer), certas artes
particulares que executam coisas especificas, a saber, imitações. Tais
imitações não se enquadram nem na verificação habitual dos produtos das artes
por meio de seu uso, nem na legislação da verdade sobre os discursos e as
imagens.”
Ou seja, a mímesis é tida como uma tentativa de representação da
“realidade” o mais verossímil possível, tendo em vista que o objetivo é captar
a maior dimensão do real. Tendo em vista que este regime tem bases na teoria
aristotélica, o problema
da representação, estaria na tentativa de verossimilhança, porque isso implica
uma representação ordenada, de modo a conduzir uma perspectiva mais próxima
daquele real ao qual se quer representar; e isso, não se é possível, porque
toda representação perde parte de sua originalidade e, portanto, não pode
representar tal realidade na sua integra. Nos dizeres de Aristóteles, a
retórica seria então, um conjunto de técnicas de imitação. “A mimesis é a lei que submete as artes à
semelhança. [...] Não é um procedimento artístico, mas um regime de
visibilidade das artes.”[5]
Nesse contexto, o regime estético das artes parte do pressuposto
da identificação da arte no seu singular, retirando a obrigação de regras e
temas. Por conseguinte, vai de linha oposta ao regime poético, justamente por propor uma reinterpretação daquilo que
seria arte, não as classificando apenas pela distinção da sua maneira interna
do fazer, mas sim “pela distinção de um
modo de ser sensível próprio aos produtos da arte” [6]. Nessa
lógica, este tipo de regime rompe com a necessidade de representação mimética,
que era o elemento responsável por fazer a distinção do fazer das artes aos
demais fazeres.
Esses são alguns procedimentos
metodológicos aos quais podemos tratar as imagens, assim como os recursos da
Analise do Discurso nos proporciona para a interpretação dos signos
lingüísticos (visuais) utilizados na imagem.
[1] Joly, Martini. “A análise da
imagem: desafios e métodos” In:
Introdução à análise da imagem. P.40
[2] Joly, Martini. “A análise da
imagem: desafios e métodos” In:
Introdução à análise da imagem. P.65
[3] [3] Joly, Martini. “A análise da
imagem: desafios e métodos” In:
Introdução à análise da imagem. P.40
[4] Rancière, Jaques. “A partilha do sensível”. (2009); P.28
[5] Rancière, Jaques. “A partilha do sensível”. (2009); P.30
[6] Rancière, Jaques. “A partilha do sensível”. (2009); p.32
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