sexta-feira, 26 de agosto de 2011


(isso foi um trabalho para a disciplina Análise do Discurso, ministrada pelo professor Melliandro, no departamento de letras da Universidade Federal de Outro Preto. Ainda consiste alguns errinhos, mas acho que está inteligível.)

- O seguinte texto pretende analisar o discurso de um poema publicado no Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, no ano de 1868. Fiz esta disciplina em detrimento do meu projeto de iniciação cientifica, que se liga ao Brasil Império, onde devo escrever sobre a imagem e auto-imagem de d.Pedro II e da Monarquia através de cartas de suplicas por esmola ao imperador.. Para tal, recorri à disciplina, que ajudou bastante. Espero que o texto tenha ficado ao menos razoável.

“Oh! excelso Monarca, eu vos saúdo,
Bem como vos saúda o mundo inteiro,
O mundo que conhece as vossas glórias.
Brasileiros, erguei-vos, e de um brado
O Monarca saudai, saudai com hinos,
Do dia de dezembro o dois faustoso,
O dia que nos trouxe mil venturas.
Ribomba ao nascer d'alva a artilharia,
E parece dizer, em som festivo:
Império do Brasil, cantai, cantai!
Festival harmonia reine em todos;
As glórias do Monarca, as sãs virtudes
Zelemos, decantando-as sem cessar.
A excelsa Imperatriz, a mãe dos pobres,
Não olvidemos também de festejar
Neste dia imortal que é para ela
O dia venturoso em que nascera
Sempre grande e imortal Pedro II”.
Estes versos foram publicados no Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, no dia 2 de dezembro de 1868. Data 
comemorada em todo o Brasil saudando o aniversário de D.Pedro II .

Direciono a análise deste poema pautando-me nos postulados teóricos de Patrick Charaudeau e também em alguns pressupostos trabalhados pela analise do discurso de linha francesa, representada, sobretudo, na figura de Michel Pêcheux.
Este trabalho pretende retirar do poema, mesmo que de forma simples e breve, mas não simplória, elementos que nos levem a remontar outra imagem de D.Pedro II, por via de discursos opositores.
Começarei pela abordagem do contexto psicossociocultural proposta por Charaudeau, que se remete ao nível situacional, visto como circuito externo, que é importante para a configuração do discurso. Sendo assim, trata-se aqui das condições de produção do discurso. Don Pedro II de Alcântara nasceu no dia 2 de dezembro de 1825 e assumiu o trono em 1840, antes de completar sua maior idade, exigida pela constituição, em virtude do seu pai ter abdicado do trono. Foi coroado em 18 de julho de 1841 através do golpe da maior idade. Seu reinado foi marcado por transformações de ordem social e econômica, decisivas para historia do país, tais como a guerra do Paraguai (1864-1870) e a Abolição da escravidão (1888). No governo de D.Pedro II, prevaleceu a tentativa de manter o poder frente à crise social e econômica, agravada a partir de meados do século XIX, com a Guerra do Paraguai, quando passou a enfrentar o descontentamento de grupos sociais oposicionistas que pregavam a derrocada da monarquia. A Guerra do Paraguai para o Brasil e para Argentina significou o aumentou da dependência do capital inglês, mas desafogou suas dificuldades financeiras imediatas.  O Brasil teve como conseqüência também a diminuição de negros nos seus territórios uma vez que havia 1 branco para cada 45 negros em seus exércitos, além do desfalque de mão-de-obra escrava que os grandes proprietários estavam enfrentando, diante do fim do trafico negreiro internacional, imposto pela Inglaterra. O que posteriormente deram-se margens a discussão abolicionista, já que o exercito brasileiro ganhou muita importância política e junto disso tudo, brevemente resumido, começa-se haver uma pressão muito grande por parte de escravos que se rebelavam contra seus senhores. A Guerra do Paraguai foi uma das muitas causas da queda do Império brasileiro, assim como a questão abolicionista, que desagrada os grandes proprietários também.
Podemos observar que neste caso a situação de comunicação mais imediata, proposta por Charaudeau, é o período histórico conhecido como Brasil Império, que dentro de suas especificidades engloba um contrato de comunicação referente à sua época, que como em qualquer outra, dever-se-ia seguir regras e normas para qualquer tipo de articulação, ainda mais as do tipo escrita publicada em jornais, que requer certa padronização das formações discursivas de acordo com tal instituição. Neste caso, o autor do poema soube expressar sua própria subjetividade, escapando um pouco do contrato social, através de estratégias discursivas, já que se tratava nesse caso de uma pessoa que era opositora do reinado de D. Pedro II. Esse poema apresenta versos aparentemente inofensivos, enaltecendo o Imperador, mas ao observar bem a primeira letra de cada verso do poema, em forma vertical, tem-se a seguinte frase: “O bobo do Rei faz annos.” O sujeito comunicante neste caso teve uma margem de manobra, rompendo, mesmo que de uma maneira implícita, com o contrato social estipulado pelo jornal.
             Nesse contexto se encaixa o interdiscurso, proposto por Pêcheux, onde no qual podemos identificar a ideologia presente neste indivíduo, que é no caso desfavorável ao Imperador, pois é por via do interdiscurso que a ideologia passa a ser infiltrada na formação discursiva, que é o percurso temático levantado pelo texto; nesse caso uma critica, mesmo que a primeira vista demonstre exagero de glorificação ao Imperador. 
A partir daí, a noção de sujeito proposta por Pêcheux, dizendo que o sujeito é assujeitado por ideologias já existentes, e onde cada instituição adotará a sua, mas que o individuo consegue de algum modo expressar sua subjetividade, que nesse caso se volta para a ação social em desfavor das medidas adotadas por D.Pedro segundo, se encaixa, de certo modo, com a idéia de humano trabalhada por Ida Machado (que segue a corrente da AD proposta por Charaudeau) em que se diz que
“o homem é um ser social (no sentido amplo da palavra) criado/condicionado pela sociedade/cultura do lugar onde vive. Logo, em quanto sujeito falante, ele ‘repete’ a voz social, mas o lado psicossocia-situacional lhe garante também uma individualidade. Nem completamente individual, me completamente coletivo: um amálgama dos dois.”

        Devemos não deixar por esquecido nesse trabalho, a noção de arquivo e identidade proposta nos postulados da ADF, que nos chamam a atenção para os discursos não contemporâneos, como é caso, sendo esses associados à memória e ao arquivo formando uma identidade. 

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