sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A instrumentalização do teatro pelas ordens religiosas.


Pretendo neste trabalho analisar o teatro como instrumento de expansão da fé católica na America espanhola, em especial sua atuação no México, através do texto de Leandro Karnal “Teatro da fé, representação do teatro no Brasil e no México no século XVI” relacionando-o com o teatro no Brasil no mesmo período e como esse instrumento foi usado de forma peculiar em cada região. Infelizmente, por pouco conhecimento das teorias do teatro, tentarei mostrá-lo de forma diferente, visto da janela de observação de um historiador.
Antes de analisar a atuação desse teatro é necessário situar o leitor em um contexto psicossociocultural mais amplo, de forma simples, mas não simplória, na tentativa de explorar da melhor maneira seu conteúdo. Tendo em vista alguns pontos externos que levou a Igreja Católica a instrumentalizar o teatro como propagador de sua fé temos o pensamento milenarista, que rodeava e embebedava as cabeças dos europeus ocidentais, baseando-se no medo e no fim dos tempos. Além disso, temos também a reforma protestante, que incentiva o surgimento de uma nova ordem em 1540 – por tanto, antes dos concilio de Trento- chamada Companhia de Jesus, que se encarregavam de expandir a fé católica de maneira disciplinar, hierárquica e maleável, para se adaptar às diversas regiões, tendo em vista a corrida imperialista. Outro ponto importante a ser lembrado é a divergência de ordens religiosas que seguiram para as regiões do México e do Brasil. No México temos uma colonização em que a ordem religiosa presente era a dos franciscanos, uma ordem não tão rígida e hierárquica quanto dos jesuítas, presentes no Brasil. Mas, existe um ponto em comum nas duas ordens: ambas usaram do teatro com instrumento de catequese, na tentativa de infiltrar de maneira acessível a diversos públicos os mandamentos da fé e seus dogmas, mas cada um a sua maneira. Lembrando que a diversidade cultural, religiosa e lingüística presentes nas regiões de conquista era enorme (o que causava muitos conflitos), visto que se tinham índios nativos, europeus e africanos. Em um momento posterior, temos a realização do concílio de Trento, visto aos olhos de Leandro Karnal como uma reorganização da Igreja Católica, que buscava a diferenciação do catolicismo dos outros cristianismos, em especial pela afirmação da sua autoridade papal, pela veneração de seus santos, reafirmação de seus dogmas e etc., e não como uma tentativa de reforma popular. O uso desse teatro contribuiu de maneira simbólica para a criação posterior de uma identidade hibrida nesses países, dentro dos moldes católicos, como expõe Leandro Karnal no seu texto, questionando a definição de culturas homogêneas, européias e indígenas, na construção de interações culturais.
            Com relação à caracterização de cada teatro dentro de suas especificidades vemos que esse foi amplamente utilizado pelos padres da Companhia de Jesus como instrumento pedagógico. Tanto na Europa quanto no Brasil, os padres escreviam peças de teatro que auxiliavam não somente na instrução de seus alunos, mas também no ensinamento dos dogmas católicos. Desenrolando-se em peças que quase sempre havia uma disputa entre os espíritos, os bons e os ruins, pela posse de almas. Já no teatro franciscano temos como característica, principal e marcante, seu valor catequético enfatizado pelos adereços cênicos como relíquias, procissões e alfaias, com predomínio de personagens bíblicos que falavam a língua espanhola. Os gêneros teatrais presente nesta época giravam em torno dos mistérios, das paixões, das alegorias, das moralidades, dos autos, dentre outros; mas a maioria tinha influencia religiosa. Karnal descreve também em seu texto as preocupações da inquisição com a maneira em que cada ordem utilizava as formas de representação, até mais do que com o conteúdo das suas ações.
            O teatro foi usado como instrumento de expansão da fé devido à ineficiência da igreja católica no processo de conversão indígena ao catolicismo, visto que os mecanismos adotados para arrecadar fiéis eram superficiais na sua compreensão por índios e africanos, por se tratar de uma cultura completamente diferente; por adorarem deuses diferentes, por falarem línguas diferentes, por terem lidere diferentes e etc. Por isso a língua nativa não era suficiente para fazer os índios entenderem os conceitos teológicos cristãos.  
“Note-se: não se trata apenas de ilustrar uma exposição catequética. As imagens eram a própria mensagem catequética. Em outras palavras: o pensamento indígena apreendeu o mundo cristão por meio de imagens e cenas. Incorporou-se um cristianismo imagético à percepção indígena”


(Avaliação escrita para disciplina de Artes Cênicas "Teatro medieval ao barroco" da Universidade Federal de Ouro Preto).

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