sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Escrita e memória da História da antiguidade clássica.


 (Minha prova de História da Historiografia. Tentem não reparar nos erros ortográficos. Me lembro como se fosse hoje a dificuldade que tique para escrever isso. Ao menos espero que seja útil para alguém).

PROPOSTA: Desenvolver um pensamento sobre o significado da escrita da história e o papel da memória na antiguidade clássica Grego-romana, tentando mostrar as formas que ela toma.

Devemos começar nossa reflexão sobre memória e a escrita histórica na antiguidade clássica através da dos poemas Homéricos. As histórias contidas nos poemas Homéricos eram histórias contadas oralmente, referente a um tempo anterior a que foram escritos. Eles são um conjunto de histórias englobado em duas obras: Ilíada e Odisséia. A ilíada narra a guerra de Tróia tendo Aquiles como personagem principal, já a Odisséia narra o retorno de Ulisses da guerra. No livro Ilíada, antes da guerra, Aquiles se vê na bifurcação entre ir para casa, ou guerrear. Se fosse para casa teria vida longa, mas acabaria morrendo no esquecimento. Se fosse para guerra teria vida curta, mas seria lembrado eternamente. A escolha de Aquiles nos faz pensar a questão da historicidade humana, ou seja, é através de sua morte que ele conseguiria permanecer vivo na memória dos posteriores. Já na odisséia, a questão da memória também é bem trabalhada através da jornada de Ulisses, como exemplo, a parte em que Ele recusa seu próprio nome, que já carregava certa importância, para escapar de Policerno, e depois de furar seu olho, o tranca na caverna e reassume sua identidade.  É a partir dessas duas obras e que poderemos começar a introduzir a discussão sobre a escrita da história e a memória.  Ulisses é um viajante que narra sua história para que se possa lembrar dele mesmo diante dos conflitos enfrentados. Para isso ele usa a questão do disfarce, ao qual esconde sua identidade para chegar a terra de origem. Essa idéia de fantasia é uma coisa não usada pelos historiadores, por isso o papel de Ulisses fica num meio termo entre poeta, por fazer uso de fantasias e historiador, por narrar a guerra. Essa idéia da historicisação do herói na epopéia é tema também na obra de François Hartog no seu texto “Primeiras figuras do historiador na Grécia: historicidade e história”.  Sobre a diferença entre narrador e escritor, Walter Benjamin fala que o narrador escreve sobre uma experiência pessoal numa dimensão coletiva e deve estar presente em seu relato. Não necessariamente precisa ter um compromisso com a verdade, que seria o caso de Ulisses. Ou seja, a epopéia homérica não é considerada uma escrita histórica por alguns autores, devido a essa mistura de fantasia e realidade e também por ter como referencia fontes orais. Apesar de ser uns dos poucos registros históricos escritos nessa época da antiguidade, essas epopéias são usadas pelos historiadores atuais como vestígios e fontes da época. Nesse ponto temos a passagem da oralidade para escrita, auxiliando a memória.
Nessa transição, começam a se desenvolver o discernimento entre poesia e história, e Herótodo, que também era um viajante, começa a escrever sobre a história da invasão persa na Grécia nos princípios do século V a.C. A diferença é que Herótodo começa a fazer uso de fontes para auxiliar sua escrita, dando a ela um caráter mais verdadeiro. Essas fontes para Herótodo seriam a presenciação dos fatos. O que explica a questão do viajante trazer informações reais, pois ele vê o acontecido. Apartir dai começa a consolidação dessa diferenciação entre história e poesia. Por isso, Herótodo fica conhecido como o pai da história, porque introduz essa nova concepção da escita; uma visão pautada na tentativa de representação conivente do real através da valorização de fontes visuais, seja presenciada por si proprio ou terceiros. A autora Jeane Marie Gagebin em seu texro” as sete aulas sobre a linguagem”, analisa as práticas narrativas de Herótodo e Tucidides. Jeane fala que a palava história para mentalidade da época não tinha o mesmo significado que tem para nós hoje. Quando Herótodo usa a palvra histor, ele se refere à “aquele que viu”, testemunhou. Segundo Gagebin, a obra de Herótodo trata-se de um relatório de pesquisa narrativa/informativa. O que diferencia sua obra das demais não é seu objeto de estudo, mas o processo de aquisição sobre esses conhecimentos; mesmo citando fontes, ele fala sobre o que viu e sobre o que ouviu. Devido à primazaia das suas fontes voltadas para oralidade, Gagebin sublinha a tradição mítica e poética, presentes na obra de Herótodo junstamente por essa tradição oral e que são transmitidas de geração para geração, sem escrita. Segundo a autora, Herótodo, partilha entre dois tipos de narrativas, que corresponderm a duas formas de tempo. Uma seria a narrativa mítica, lendaria, presente no tempo dos deuses. Esse tipo de narrativa não se mostra passivel de uma cronologia. Em quanto que a outra, a narrativa histórica, trata de um tempo pesquisável, com referências cronológicas, possivel de serem encontrados; trata-se então de um tempo mais recente.
Indo para a análise da escrita histórica na obra de Tucidides, vemos que ele escreve sobre a guerra do peloponoso dirigindo sua escrita para o particular. Ele faz uma análise sobre o papel do historiador, também diferenciando a poesia da história. Para ele a história deve estar voltada para o real, para o acontecido, mas deve possuir também a criatividade que deve estar voltada para esse real, se diferenciando da poesia, que volta a criatividade para o imaginário. Aristóteles em seu tratado se diverge das ideias de Tucidides justamente por  abordar as regras de como escrever poesia. A poesia de Aristoteles é voltada para a poesia mimética, ou seja, definida pelo mito, que na sua concepção é a maneira como as palavras se organizam; o mito teria o mesmo significado que enredo. Aristóteles distancia a história da ciência quando faz uma comparação da poesia com a ciência universal. Para ele a poesia se encontra num ambito universal/geral, ou seja, a poesia é ligada à ciencia universal somada à filosofia. E se a história se distancia da poesia, logo não será reconhecida como ciência.
Essa idéia de afastamento da história do ambito universal é contraposta por Polibio. Ele escreve uma história voltada para vida pública dos homens politicamente ativos do Império Romano. A história na concepção de Políbio, ganha um ambito universal na medida em que esse escreve sobre Roma. É nesse contexto, que Políbio expõe uma visão pragmática da escrita da história. Essa idéia gira em torno do encadeamento dos fatos para se fazer um sentido, chamado de fortuno. [1]Alem de adotar esse novo conceito pragmático, a história para Polibio ganha ainda outra visão, diferente de Herótodo e Tucidides, que a visão sinóptica, ou seja, a visão de conjunto. A resposta de Polibio a Aristóteles gira em torno da discursão de que a história não deve ser lida na sua visão com o particular, mas sim abanger uma visão geral dos fatos. Diante disso Políbio diz: “Pois atingir uma idéia do todo pelas partes é possível, mas ter dele uma ciência e um conhecimento preciso, é impossivel.” O que Polibio quis dizer é que a verdade é encontrada somente na história universal, envolvendo a idéia do pragmatismo, que proporciona o ecadeamento dos fatos[2].
Vemos então que o conceito de memória para Homero, Herótodo, Tucidides, Aristóteles e Políbio, mesmo que de formas diferente, se remetem ao auxilio da escrita para que haja a lebrança. Essa lembrança está ligada a fatos acontecidos, seja eles cantados pelos aedos, seja eles presenciados. Essa memória tem a intensão, em ambas as partes, de tornar o passado eterno no presente como forma de conhecimento. Já na histotiografia judáica, essa concepção de memória é diferente. Ela vale através da lembrança de Deus, que é apresentado de maneira historicisada. Essa memória não se trata de uma musa que narra os feitos históricos, como nos poemas homéricos; se trata de um Deus que mantém um diálogo com os povos judáicos através de Moisés. Essa memória passa por uma rememmorização, de tempos em tempos, através do exílio, pois é com ele que começa a caracterização dos povos judeus, que saem do Egito e vão a caminho da terra prometida (Canaã).  Esse retorno a Canaã é interpretado como o retorno à memória, garantindo a união desses povos.  Por se tratar de uma memória em movimento ela só faz sentido se for passada de geração para geração. A memória judáica não está inserida no plano do conhecimento, se diferenciando de Herótodo e Tucidides. Para os judeus a memória esta ligada ao campo do saber como forma de relembrar suas referencias, não como forma de produção de conhecimento histórico. Essa memória se encontra na dimensão do futuro, que seria o retorno a terra santa, imposta por Deus. Essa concepção judáica, de memória, que está ligada ao futuro, mais uma vez se diverge da idéia de memória de Heróto e Tucidides, que se encontra na dimensão do presente, já que os fatos são registrados para marcar no presente aquilo que já passou.
Através dos parágrafos acima, percebemos desde Homero, uma modificação na escrita da história e na idéia de memoria. Na epopéia Homerica temos um tipo de poesia[3] misturado com história[4]. Passando para Herótodo observamos uma mudança na escrita, que já passa ter um caratér mais histórico por fazer uso de fontes[5], mas que não abandona completamente o carater poético da epopéia Homerica. Depois temos Tucidides, faz uma análise crítica em cima da escrita de Herótodo, acrescentando a criatividade como elemento participante da escrita do historiador e em ciama da obra de Tucidides temos uma crítica feita por Aristóteles. Temos depois,  Polibio, que critica a idéia de Aristóteles, além de dar um sentido pragmático para a escrita da história. Essa escrita para esses autores significa a permanencia do tempo passado no tempo presente, ou seja, a permanencia da memória, independente do caminho que ambos tomaram para chegar a essa conclusão. Essa idéia se diferencia da historiografia judaica, que usa a escrita da história, não para produção de um conhecimento histórico, mas para relembrar o objetivo de seu povo, que era o retorno a terra santa. Mostrando aí que sua memória esta ligada naquilo que está por vir, não naquilo que já aconteceu.



Bibliografia

    
 Jeane Marie Gagnebin – Sete aulas sobre linguagem, memória e história.

Luciano de Samosáta – Como se deve escrever a história

Poética de Aristóteles – Livro “Os pensadores”

François Hartog -  As primeiras figuras do historiador na Grécia: historicidade e     história.


[1] Diferente de Herotodo e Tucidides, cujo os fatos eram apenas apontados.
[2] Que seria o mesmo que fortuna. (Agente externo que proporciona o enredo; encadeamento dos fatos.
[3] Devido a elementos fantasiados
[4] Por narrar a guerra de Tróia; fato que realmente aconteceu
[5] Mesmo essas sendo orais.

Um comentário:

  1. Desculpem-me, mas o titulo tem um erro. O correto é: "Escrita e memória da História na antiguidade clássica.

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