terça-feira, 2 de outubro de 2012

O 'vulcão pós-moderno'.

 A proposta que eu escolhi para esta atividade avaliativa, foi a definição do Modernismo e pós-modernismo. Para desenvolver tal tema, usei a bibliografia indicada, mas me privei em dar ênfase apenas para dois autores: Terry Eagleton e Fredric Jameson. Escolhi os dois justamente por apresentarem perspectivas diferentes e antagônicas sobre os conceitos de moderno e pós-moderno. Acontece que, durante meus estudos sobre definições de tais conceitos, me pus a pensar outras coisas sobre o assunto para além do apenas definir; sendo assim, darei inicio a minha perspectiva decorrente da leitura da bibliografia indicada, mas partirei do pressuposto de que, tanto para mim quanto para você, estes conceitos – ou pelo menos as características básicas de cada um – estejam claros. Por esse motivo, passarei por essas características de forma rápida, apenas para contextualizar o que quero dizer.
O livro de Terry Eagleton que utilizei foi ‘As ilusões do pós-modernismo – a lógica cultural do capitalismo tardio’. Neste livro, Eagleton começa apresentando a diferença entre termos pós-modernidade, que alude a um período histórico especifico e o termo pós-modernismo, que se refere à forma de cultura contemporânea. Apesar dessa distinção, autor opta por abranger o termo pós-modernismo para definir as duas coisas; sendo assim, irei me referir ao termo segundo o entendimento de Eagleton. O autor definiu o pós-modernismo como
“um estilo de cultura que reflete um pouco essa mudança memorável por meio de arte superficial, descentrada, infundada, auto reflexiva, divertida, eclética e pluralista, que obscurece as fronteiras entre a cultura ‘elitista’ e a cultura ‘popular’, bem como entre a arte e a experiência cotidiana.”

Sua analise tende a fazer um exame negativo do pós-modernismo apesar de, em alguns momentos, apontar algumas instancias positivas. Eagleton denomina o pós-modernismo como um fenômeno hibrido. Fixei-me um pouco nesta expressão, pois achei muito digna de analise. O significado da palavra hibridez no dicionário, faz referencia à uma anomalia, irregularidade. Nos termos biológicos o ser hibrido designa um cruzamento genético entre duas espécies distintas, que geralmente não podem gerar descendentes. Assim sendo, o pós-modernismo é encarado como um fenômeno anômalo e irregular, esquizofrênico e incapaz de se reproduzir. Para ele, o fenômeno parte de uma ‘desconstrução’, onde todos são vitimas da própria logica capitalista[i] - pelo menos no âmbito da produção cultural – o que acaba por ocultar a ideia de sistema criativo, que Fredric Jameson tanto apresenta como característica da pos-modernidade e do pós-modernismo.

Nesse contexto, Fredric Jameson em seu livro “Pós-modernismo – a logica cultural do capitalismo tardio”, acredita que “é mais seguro entender o conceito do pós-moderno como uma tentativa de pensar historicamente o presente em uma época que já se esqueceu como pensar dessa maneira”. Jameson chega a essa conclusão porque enxerga que a consciência pós-moderna consiste na enumeração de mudanças e modificações; o pós-moderno busca as rupturas em tudo aquilo que já foi. No lugar da busca pelo novo, pelos novos mundos (como reflete o pensamento modernista), o pós-modernismo busca o instante revelador, um ‘quando tudo mudou’ e ‘como ele mudou’. Já os modernos se preocupam no que acontecerá após a mudança. Jameson reflete:

“O pós-modernismo é o que se tem quando o processo de modernização esta completo e a natureza já se foi para sempre. É um mundo mais completamente humano do que o anterior, mas um mundo no qual a cultura se tornou uma verdadeira ‘segunda natureza’’’. P.13

            O pós-modernismo é um conceito muito complicado para ser definido porque estamos vivenciando exatamente este período; apesar disso, podemos falar, ainda que de modo confuso, de suas propriedades reveladoras e de suas características mais comuns por fazermos parte disto tudo. Damos nome àquilo que estamos vivendo. Por isso, falar sobre este fenômeno, ou este momento histórico, é necessário que haja uma sensibilidade diante dessa mudança histórica que está ocorrendo, seja pela via direta socialista como de Terry Eagleton, seja pela logica cultural do capitalismo, como Fredric Jameson.
            Não obstante, Jameson denomina o pós-modernismo como um novo gênero discursivo, tendo em vista que uma das características mais marcantes do pos-moderno é o modo pelo qual, nesse período, inúmeras analises de tendências – como por exemplo os estudos sobre marketing, criticas de cultura, novas terapias, amostras de cinemas e etc. – se aglutinam formando este novo gênero discursivo; tudo isso é terminologicamente chamado de “teoria do pós-modernismo” pelo autor.  
“A teoria do pós-modernismo é o esforço de medir a temperatura de uma época sem os instrumentos e em uma situação em que nem mesmo estamos certos de que ainda existe algo com coerência de uma ‘época’, ou ‘zeitgeist’, ou ‘sistema’ ou ‘situação corrente’. A teoria do pós-modernismo é, então, dialética, pelo menos na medida em que tem a sociedade de usar essa incerteza como sua primeira pista e agarra-se a esse fio de Ariadne em seu caminho através de algo que talvez não se revele, no fim das contas, um labirinto, um aglutinamento ou talvez um shopping center”. P15.

A arte pos-modernista rompe com os precedentes da arte modernista, que faz prevalecer a noção de progresso e de telos – em sua forma mais autentica – onde cada obra é por si só genuinamente nova e supera (ou pelo menos é capaz de superar) sua predecessora. O retorno da historia em meio aos prognósticos do desaparecimento do “telos histórico” é explicado por Eagleton como uma segunda característica bem marcante do pós-modernismo.
“O modo pelo qual qualquer observação virtual sobre o presente pode ser utilizada como sintoma e índice da logica mais profunda do pós-modernismo, que assim se torna, imperceptivelmente, sua própria teoria e a teoria de sí mesma.” P.16
                       
Fala isso no intuito de provar que este tempo é um tempo singular, completamente distinto de qualquer outro momento do tempo humano. Tal forma de pensamento, segundo o autor, acaba por fazer abrigar uma patologia auto referencial, “como se nosso completo esquecimento do passado se exaurisse na contemplação vazia, mas hipnótica, de um presente esquizofrênico e incomparável por definição”.
             No entanto, o pós-modernismo tenta quebrar o paradigma do progresso, e volta seu olhar para a ruptura, a descontinuidade; segundo autor, a impossibilidade de emergência de uma nova cultura se deve ao fato do pós-modernismo ser a ruptura, desconstrução e ressignificação de tudo aquilo que já foi. Dessa maneira, algumas características muito marcantes no modernismo se fazem a mostra também no pós-modernismo, e justamente por isso Terry Eagleton fala que
“Da mesma forma que se dizer ‘pos-modernista’ não significa unicamente que você abandonou de vez o modernismo, mas que percorreu à exaustão ate atingir uma posição ainda completamente marcada por ele”. – o pre-pós-modernismo.

Nesse processo de reflexão sobre o tema, acabei por fazer uma metáfora para explicar o que consegui entender sobre a pós-modernidade. Nesse sentido, fiz uma analogia entre o pós-modernismo/pos-modernidade e um vulcão, ao qual denominei de “vulcão pós-moderno”. Para explicar, preparei um diagrama que ajudará muito.
Jameson encara a cultura pos-modernista como um reflexo da modificação sistêmica do próprio capitalismo. Ela é impura, como ele mesmo diz, justamente por ser a mistura de tudo aquilo que já existiu em outro estado físico.
“O pós-modernismo não é a dominante cultural de uma ordem social totalmente nova (sob o nome de sociedade pós-industrial, esse boato alimentou a mídia por algum tempo) mas é apensa reflexo e aspecto concomitante de mais uma modificação sistêmica do próprio capitalismo”.

Entretanto, a definição do pós-modernismo (pelo menos na arte) como uma ruptura ou uma continuidade – ou como o próprio autor diz: “se o presente deve ser visto como historicamente original ou como uma repetição do mesmo em uma nova embalagem” – não é algo que se pode justificar em termos empíricos ou filosóficos. Por isso não podemos classificar nosso presente como historicamente original; porque a lava que constituída sob nova forma física fora do vulcão é a mesma que se encontrava, ate então, no interior do mesmo. Para tal, Jameson usa a terminologia genealogia múltipla.

“Em retrospectiva, o novo nome (pós-modernismo) nos abriu a possibilidade de pensar o que foi que sentimos e isso porque agora temos um nome para dar aos nossos sentimentos e esse nome é validado pelo uso que outas pessoas fazem dele.”

Apesar dos dois autores trabalhados fazerem uma analise do pós-modernismo baseado nesta mudança do capitalismo, a especulação de Jameson aproxima, mas de forma contraria, às ideias de Terry Eagleton, que entrelaça tal forma de pensamento à psicanalise, a qual considera, assim como o próprio pós-modernismo, de estruturalista e um subproduto dele mesmo dentro dessa logica capitalista; diferente de Jameson que enxerga nisso tudo uma ressignificação. A ressonância cultural do pós-modernismo continua na função dialética, visto que por um lado desvia a atenção da economia e, por outro, permite que fatores econômicos e inovações mais recentes (em marketing, cinema e arte – apontado aqui a titulo de exemplo) sejam recatalogados. Seria como reescrever todas as coisas familiares em novos termos e assim propor modificações; um reembaralhamento de valores.
            O esquema do vulcão, a meu ver, pode-se ser considerado uma junção dos argumentos teóricos desses dois autores trabalhados. Dentro daquela classificação do pós-modernismo como um ser hibrido, introduzido por Eagleton, podemos fazer analogia à lava do ‘vulcão pós-moderno’ que na sua fase de matéria sólida, é incapaz de se ‘reproduzir’, de sua matéria se tornar algo para além daquilo ou, quem sabe, mudar novamente de estado físico. Ainda assim, é importante lembrar que este ‘vulcão’ pode entrar novamente em erupção e a próxima ‘lava’ que emergir, irá consequentemente se materializar sobre a forma física em cima daquela que já existe. Transformará aquele espaço, mas não destruirá o já existente; modificara mais uma o cenário pré-existente.  Diria que essa pintura se encaixaria no quadro que Terry Eagleton chama de pré-pós-modernismo. As principais marcas do modernismo se fará presente no interior/na parte de baixo da ‘lava’ que acaba de emergir. Ela não será destruída ou apagada pela ‘nova’; está apenas enquadrando-se na camada mais velha, fazendo parte do cenário passado, mas existindo ainda.
           



[i] Apenas lembrando que Eagleton faz uma analise socialista do pós-modernismo. Então, toda sua pauta de critica gira aos redores dos aspectos políticos e teóricos.